Santidade: o sonho de Deus para nós

por Celso da Silva, LC


Festejar todos os santos vai mais além do mero lembrar os santos que não foram canonizados pela Igreja e não tem um dia festivo no calendário.

O significado profundo da Solenidade de Todos os Santos está no maravilhoso fato de que Deus sonha com a santidade de todos os seus filhos. E o sonho de Deus se torna realidade quando nós, insertados no seu Filho, Jesus Cristo, aceitamos uma missão que, com a sua graça e a nossa colaboração, consiste em sermos reflexos vivos e contagiantes da Glória de Deus. Santos são todos os que realizam esse grandioso sonho de Deus.

Nós, Igreja militante nesta terra, voltamos hoje o nosso olhar à Igreja Triunfante, e ali a todos os santos, e desejamos percorrer o caminho que eles percorreram, de tal maneira que, com os pés na terra, hoje queremos sonhar com o sonho de Deus: ser santos porque Ele é Santo. E como bem disse o papa Bento XVI: a santidade nunca passa de moda.

1. Deus tem um grande sonho:

E não é outro que a nossa santificação. Os nossos sonhos são os de Deus? Sonhamos com sermos tantas coisas nesta vida e, quem sabe, não sonhamos em ser santos. Sonhamos com coisas materiais, dinheiro, carro, lazer, diversão, muitos passatempos e nunca com alcançar a santidade. Somos absorvidos por tantas coisas deste mundo e já não sonhamos com o sonho que Deus pensou para nós, criando-nos à sua imagem e semelhança.

Ter os mesmos sonhos de Deus quer dizer estar buscando na fé a sua Vontade na nossa vida e a sua Vontade é que cheguemos ao Céu. Contam que santo Inácio de Loiola, antes de se entregar ao Senhor era um militar. E numa batalha em Pamplona, Espanha, um canhão quase destroçou a sua perna. Enquanto convalescia, ele começou ler as vidas dos santos e, pouco a pouco se contagiou de tão belos testemunhos, ao ponto de começar a sonhar o sonho fantástico de Deus sobre ele e sobre o rumo da sua própria vida. Santo Inácio a partir daí, abandonou-se nas mãos de Deus e cumpriu o sonho Dele. É um grande santo.

A festa de hoje nos convida a buscar o Rosto de Deus (Salmo 23) desde já, aqui na terra, com os meio concretos que Ele vai nos oferecendo como ofereceu a santo Inácio de Loiola e a tantos outros santos.

2. Insertados em Jesus Cristo:

O sonho de Deus se concretiza na carne sofrida e gloriosa do seu Filho Jesus Cristo e, somente insertados Nele, homens e mulheres de todas as épocas e culturas são capazes de passar pela tribulação- de lutar nesta vida- lavando e branquejando as suas vestes (os seus corações) com o sangue do Cordeiro, Cristo (Ap 7, 14).

São pessoas que passaram por este mundo como sarmentos unidos à Videira, pessoas que com o seu exemplo silencioso de cada dia viveram em carne própria a radicalidade da cruz de Cristo: um madeiro vertical (vivencia eucarística, frequência penitencial-confissão-, oração, sacrifícios, carismas, dons) e um madeiro horizontal que se prolongou em atos concretos de caridade e misericórdia com os irmãos mais necessitados.

Todos os santos, conhecidos ou não, são homens de carne e osso como nós, repletos de misérias e fragilidades, que souberam “contemplar Aquele que transpassaram” para chegar “ a ser semelhantes a Ele, para vê-lo tal como Ele é” (1Jo 3,2).

3. Reflexos da Glória de Deus:

Deus existe e o seu amor e a sua bondade se refletem nos santos, pessoas talvez simples que nunca tiveram estudos de teologia, só que com quanto amor e ternura falam de Deus e vivem para Deus.

São pessoas santas porque são “pobres de espírito”- são humildes, não orgulhosas! São santas porque “choram”- hoje em dia quanta gente é incapaz de derramar uma lágrima, porque se esqueceram de que Cristo na sua vida terrena também chorou diante do sepulcro de Lázaro! São santas porque “têm fome e sede de justiça”- têm a valentia de denunciar e lutar contra o pecado neste mundo para salvar o pecador, que se arrependa e se converta! São santas porque são “misericordiosas”- foram reconhecidas por Deus na porta do céu porque aqui na terra souberam reconhecer Deus no rosto do próximo, como fez a beata Madre Teresa de Calcutá! São santas porque, embora “perseguidas”, não titubearam na fé em Cristo- pensemos na tremenda quantidade de cristãos perseguidos no mundo de hoje, especialmente naqueles países onde a liberdade religiosa é violada pelo estado; esses são os santos de hoje, reflexos vivos da santidade de Deus, pessoas que, como nos primeiros séculos do cristianismo, não mudam de identidade no momento em que a espada trisca as suas gargantas, mas glorificam a Deus exclamando: “Viva Jesus Cristo, sou cristão!”.

Nesta festa de hoje nos alegramos e exultamos com toda a Igreja da terra e do céu, porque cremos que a nossa recompensa é grande no Reino dos Céus.

Para meditar:

Finalmente, quero sonhar com o sonho de Deus para mim? Aceito e luto por ser santo porque Deus é o primeiro interessado nessa aventura da minha vida? Unido a Jesus Cristo, amo a Deus e amo as pessoas que convivem comigo como um modo concreto de trilhar o caminho da santidade para chegar à Jerusalém Celestial? Estou disposto a ser reflexo da Luz, da santidade de Deus, passando pela porta estreita das bem-aventuranças?

Só respondendo estas perguntas fundamentais com a nossa vida diária, ajudados pela graça, poderemos realizar o grande sonho de Deus para nós: “sede santos como o vosso Pai Celeste é Santo” (Mt 5, 48).

     

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