por Anderson A. Pitz, LC


O Papa Francisco escreveu a sua primeira encíclica a poucos meses do início do seu pontificado. Desenvolve a primeira virtude teologal no contexto deste ano decretado pelo Papa Bento XVI de especial atenção a esta virtude. A fé.


Gostaria de comentar a primeira parte da Lumen Fidei extraindo alguns aspectos que vejo resaltado com especial importância pelo Papa.

A fé pode ser vista desde diversos ângulos. É uma pedra de diamante que agora queremos pegar delicadamente em nossas mãos e observar. Conforme se centra a nossa atenção, vamos virando-a e descobrindo novas facetas, novas belezas.

Por que se diz que a fé é uma luz? Todos nós fizemos alguma vez a experiência de caminhar no escuro. Além da insegurança, da incerteza, talvez medo, não sabemos o que está ao nosso redor. Não vemos nada. Nas nossas vidas, caminhar com a fé, é caminhar na claridade. A fé é a luz que esclarece o nosso entorno, que nos faz ver mais além do curto horizonte. Quem ilumina a sua vida com a fé sabe que tudo tem um sentido, que nos dirigimos a uma meta, que não se acaba tudo aqui. A fé é a luz alta que acendemos no nosso carro e faz cresçer a visão, ver mais além e avançar com mais segurança.

No mundo há luzes e luzes. Pequenas velas, focos de baixa luminosidade, média e superior. Quanto menor a capacidade, menos ilumina e, por tanto, se faz incapaz de desvendar a estrada. Quando falta a luz, tudo se torna confusão: é impossível distinguir entre o bem e o mal, diferenciar a estrada que conduz à meta daquela que nos faz girar repetidamente em círculo, sem direção. Por isso urge recuperar a luz da fé porque se essa luz se apaga, todas as demais luzes acabam por perder o seu vigor.

A luz da fé ilumina toda a existência humana, orienta os nossos passos.

A palavra fé vem do hebraico e significa “sustentar”. Em latim se diz “fidei”, mesma raiz da palavra “fidelis”, fiel. O homem fiel recebe a sua força do confiar-se nas mãos de Deus que é fiel. O Senhor é sempre fiel às suas promessas e o homem deve dar-lhe a sua adesão.


 Se esta luz se apaga, se perdemos a confiança em Deus, começamos a ouvir a voz dos ídolos. A fé consiste na disponibilidade a deixar-nos incessantemente transformar pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento dispersivo a que o sujetam os ídolos.

Nossa fé cristã está centrada em Cristo. Confessamos que Jesus é o Senhor e que Deus o ressuscitou de entre os mortos. Todo o Antigo Testamento se dirige a Cristo. Nossa fé é fé Nele que é amor pleno, fé no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo.

Outra faceta mais desta maravilhosa pedra preciosa que estamos observando e que pode nos pertencer cada vez mais. A fé nos faz descobrir quanto Deus ama este mundo e o orienta sem cessar para Si. Isto faz o cristão comprometer-se a viver de modo ainda mais intenso o seu caminho sobre a terra.

 A fé nos transforma numa nova criatura. Recebemos um novo ser, um ser filial, tornando-nos filhos no Filho. Somos filhos de Deus, sejamos também espelhos de Cristo para os nossos irmãos. Que as pessoas ao nosso lado vejam a Jesus em nós, nas nossas atitudes, no nosso obrar, no nosso trato.

 A luz da fé que está dentro de nós nos faça resplandecer a imagem e semelhança de Deus que somos. Assim viveremos conforme o plano original de amor com o qual Deus nos pensou e nos criou.

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