O caminho do Advento

por Raúl Felipe Lansing, L.C.



Neste domingo, 01 de dezembro, começamos mais uma vez o tempo litúrgico do Advento, em preparação ao nascimento do Menino Jesus, no dia 25 de dezembro. Mas alguém poderia perguntar-se: Advento outra vez? Não celebramos no ano passado?
Atitudes assim podem parecer-nos estranhas à primeira vista, mas são muito comuns nos nossos dias. Não vem de uma má intenção, mas do simples fato que esse momento, que deveria ser tão especial para cada cristão, passa muitas vezes desapercebido no nosso dia-a-dia. Isso muito se deve ao consumismo de nosso tempo, pois em todas as partes, televisão, supermercados, vitrines, tudo nos fala de compras, compras e mais compras. São poucos os lugares que nos mostram o verdadeiro sentido do Advento.
Mas o que posso fazer, então, para aproveitar melhor esse tempo de preparação para o Natal? Certamente existem muitos meios e modos, mas cada um deve examinar no fundo do seu coração e encontrar esse caminho que nos conduz até Belém. Um modo muito simples e de muita ajuda pode ser o de responder, no mais íntimo de cada um, à seguinte pergunta: O que eu posso oferecer de presente para o nascimento do Menino Jesus? Do nosso coração virá uma resposta, que pode servir de guia nesse caminho adventício.
Montar um pequeno presépio no inicio do advento é de muita tradição e ajuda. Cada membro da família, com um pequeno prósito cada dia, faz o seu esforço para ter a manjedoura pronta para Jesus na noite do dia 24. Cada propósito cumprido é uma palha que se coloca na manjedoura. Esse é um meio muito simples, mas nos pode ajudar muito a aporximar-nos do mistério de amor e simplicidade de Belém.
Sem dúvida Jesus não olhará somente para nossas ações, mas principalmente para o nosso coração e o nosso desejo de recebê-lo com pureza e amor. Por isso uma boa confissão sempre é de grandíssima ajuda. Lembremo-nos que Deus nunca se cansa de perdoar-nos, e o seu nascimento é prova disso.

Que este Advento não passe desapercebido em nossas vidas e, principalmente em nosssos corações. Que no dia 25 de dezembro, junto com os pastores e os reis magos, possamos dizer a Jesus: “vimos Tua estrela no oriente e viemos adorar-Te”.

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Cristo rei

por Anderson Pitz, LC

Celebramos uma grande solenidade. Tão importante que se trata de uma das sete petições do Pai-Nosso: “Venha a nós o Vosso reino!”Neste artigo vamos buscar entender um pouco mais o que significa esse reino de Deus: o que significa que Cristo seja rei? Como é o seu reinado? Quem pertence ao seu reino? Qual é a relação entre o Rei e seus vassalos?

Qual é o reino de Deus?O evangelho que escutaremos neste domingo na Missa (LC 23,35-43) nos dá uma resposta a esta primeira pergunta. Os príncipes dos sacerdotes, um dos ladrões e inclusive, me imagino, os soldados que crucificaram a Jesus diziam: “se tu és o Messias, salva-te a ti mesmo”.Jesus diante destas afrontas, ingratidões, inclusive tentação de não terminar a sua missão e mostrar gloriosamente a sua divindade, permanece em silêncio.O reino de Deus não é um reino temporal, não se trata de luta de poder, não é avaro como infelizmente se concebe hoje em dia o poder, o governo.O reino de Deus é um reino que não tem limites de espaço, nem de tempo porque não é um reino temporal. “O meu reino não é deste mundo” (JO 18,36) respondeu Jesus a Pilatos.

Como é o reino de Cristo? Quem pertence a este reino?Jesus é um rei diferente. Ele é soberano e senhor, criador de tudo o que existe e tudo lhe pertence. Ele é quem nos sustenta fazendo “chover sobre justos e injustos”. Tem direito sobre cada um de nós porque nascemos de Suas mãos e Ele deu a sua vida para resgatar-nos.Não obstante, Jesus governa com o cajado do amor, sentado no trono do serviço e da misericórdia, endossando a coroa da paternidade e da justiça.Assim, escutamos da sua boca uma das frases mais bonitas do evangelho: “já não vos chamo servos (...) mas amigos” (JO 15,15).Quem não deseja pertencer ao reinado de tão bondoso e magnífico senhor? O que temos que fazer é, simplesmente, ser seus amigos.Como em todo reino, os inimigos não faltam. Atacam-lhe e atacam os seus súditos. Quantos reis se apresentam nas nossas vidas querendo conquistar-nos para si e fazer que lhe sirvamos. A rainha televisão, rainha moda, rainha racionalidade fria e calculista, rei indiferença, etc.O reino de Jesus é um reino espiritual e por tanto, se estende de forma espiritual. O seu reino deve ir tomando possessão cada dia mais dos nossos corações. Ir permeando, penetrando, conquistando o meu ser.Como? Fazendo de Jesus o meu amigo, o centro, critério e modelo da minha vida.

Jesus tinha amigosNos evangelhos, temos autênticos testemunhos que Jesus era acompanhado de amigos. Por exemplo, Lázaro, Maria e Marta (cf. JO 11,5). Os seus discípulos aos quais ele disse: “vos chamo amigos” (JO 15,15) e no capítulo 13 de João ainda, Jesus declara que “ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida por seus amigos”.

A amizade, união de coraçõesO amigo é necessário para viver. É uma graça, um dom em si mesmo. Dizia santo Agostinho que o amigo é um alter ipsis, um alter ego (“outro eu”). Ele mesmo confessou que quando perdeu seu grande amigo da juventude foi como ter perdido a metade de si.A amizade é um sentimento que funde, em certo sentido, dois corações, duas almas.Jesus disse a uma mística francesa do tempo das Guerras, chamada Gabrielle Bossis: “deixai-me viver em ti. Seremos os dois um só”.

Jesus, centro da minha vidaJesus deve ser o mais importante nas nossas vidas. Não deixemos o Senhor na periferia, na superfície da nossa vida.Às vezes dizemos: “se sobra tempo, depois de fazer isso, aquilo... vou rezar, vou ir à Missa”. Então Jesus passa ao segundo, terceiro ou quem sabe qual plano, se tudo está antes de Dele, por encima Dele.E o 1º mandamento diz: “amar a Deus sobre todas as coisas”.

Jesus, critério da minha vidaUm critério é uma medida, um parâmetro de juízo. Com qual critério julgamos as diferentes situações das nossas vidas? O nosso critério deve ser Jesus, o que Ele nos ensinou com suas palavras e seus gestos no Evangelho.Os critérios de Deus são a misericórdia, o perdão, a compreensão.

Jesus, modelo da minha vidaUm modelo é um exemplo a seguir, a imitar. Jesus é o nosso modelo e o seu reino se estenderá no meu coração à medida que o imite.O que faria Jesus no meu lugar?” Que bonito seria se vivêssemos pensando assim. Seria o céu nas nossas vidas. O verdadeiro céu porque o céu é o reino de Deus e atuando como Jesus nos ensinou já estamos vivendo uma parte do reino de Deus antecipada aqui na terra.Peçamos cada dia ao Senhor ser seus melhores amigos. Que Ele cresça no nosso coração porque fazemos Dele o centro, o critério e o modelo das nossas vidas. Que o seu reino se estenda cada dia mais no meu interior.

Cristo rei nosso, venha a nós o Vosso reino!





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Viva Cristo Rei

Por Renan Checa, LC


Viva Cristo Rei! Esse era o grito que animava muitos homens e mulheres a dar a vida por Cristo e sua fé. Mas o que significa que Cristo é nosso Rei? Como nos dirigimos a Ele, como fazer que na minha vida também ressoe esse grito? 

Nos colocamos no início do século XX. Século onde o mundo era invadido por grandes governos de tipo ditatorial e anticlerical. Nazismo na Alemanha, Fascismo na Itália, Comunismo na Rússia, Revolução Massônica no México. Nesse contexto, sem nenhum medo, o Papa Pio XI instituiu a festa litúrgica de Cristo Rei. Queria com isso gritar ao mundo inteiro que mesmo em meio a ditaduras e provas e perseguições, Cristo continua reinando sobre todo o mundo. Cristo, Rei do Universo.

Esse é o contexto da origem da festa. Mas o que essa festa me pode dizer hoje? Como deve o católico viver essa solenidade oitenta e oito anos depois da sua instituição? Agora que vivemos num século sem perseguições religiosas tão claras como as que víamos antes, se deve também sair gritando ao mundo inteiro que Jesus é o Rei e Senhor de todo o universo?

Um rei é alguém que tem poder para governar, um exército, terras, etc. Um chefe e soberano. No Evangelho que se lê no dia de Cristo Rei, se vê a Cristo como o Rei dos judeus. E, no entando, crucificado. Como se explica isso? 

Jesus é um rei diferente. É um rei que quer reinar não com poder e majestade, mas com a humildade e amor. Esse é o poder de Cristo Rei do Universo: o amor. Essa é sua arma, seu exército. Quando os mártires davam a vida por Cristo gritando Viva Cristo Rei, estavam gritando que tinham encontrado nesse Rei um amor tão grande que por isso foram capazes de dar a vida por Ele. Amor. Se pode dizer tanto dessa palavra. Mas ao mesmo tempo se limitam tanto as palavras ao falar sobre ele. 

Portanto, hoje os católicos não somos convidados a falar do amor, a falar de Cristo Rei. Mas a experimentar esse amor, esse poder de Cristo Rei. Que essa festa nos ajude a descobrir na humildade e amor de Cristo crucificado, o poder desse Rei que me leva também hoje a gritar com todos os mártires, Viva Cristo Rei!

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A importância da música na Igreja

Por Anderson Pitz, LC


"Quem canta reza duas vezes". Quanta sabedoria nesta famosa frase de Santo Agostinho. A oração é importantíssima na vida cristã. Por meio da oração, o cristão entra em contato com Deus e nutre a sua alma. E cantar é rezar, é celebrar a liturgia numa atitude de adoração, de louvor a Deus de quem tudo depende.

A liturgia privilegia a palavra, atualiza a comunicação entre Deus e o homem. Por isso, a leitura pública e em voz alta das leituras e orações litúrgicas é o modo mais apto para expressar o diálogo entre a Igreja Esposa e Cristo Esposo.

Na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium do Vaticano II lemos: "na Liturgia Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração" (nº 33). Cantar, em vez de só recitar, as leituras e orações litúrgicas reforçam sua capacidade comunicativa e até mesmo, em algumas ocasiões, o canto chega a ser uma oração em si mesma.

Funções do canto litúrgico
São várias as funções do canto e da música litúrgica. Citamos principalmente três:

- É uma expressão poética. Por meio do canto, como dissemos antes, a palavra pode chegar a ter uma força comunicativa muito maior, ganhando expressividade e beleza.

- Cria um clima festivo e comunitário. Sendo o canto uma expressão do interior do homem que toca-lhe no seu mais íntimo e profundo, contribui para liberar sentimentos escondidos e reservados e tira as pessoas do individualismo, para criar um sentido de alegria comum e uma sintonia.

- O canto tem, além, uma função ministerial e sacramental. A música sacra está em função da liturgia para ajudar a assembleia a expressar e realizar duas atitudes internas para depois, transformá-las em vida.

Características da música sagrada 
Usamos aqui o termo música sagrada referindo-nos à música usada no culto. Podemos identificar algumas características conforme estas funções antropológicas e litúrgicas.

O canto deve ser santo. Isso não quer dizer só rejeitar o que há de profano, mas assumir o caráter consagrado. Será santo o canto que se integra com a ação sagrada, usando os textos litúrgicos e expressando melodiosamente o significado destes textos.

Será bom o canto não só se conserva a perfeição técnica da música, mas quando consegue significar a realidade boa e perfeita do culto. Pelo canto conhecemos e experimentamos a bondade mesma de Deus.

O que a Igreja busca com a música não é só o prazer estético, mas a elevação espiritual que ajuda tanto à alma a chegar, através da ordem sensível, à ordem da graça. Por isso a Igreja estima tanto o canto gregoriano e o canto polifônico clássico, que criam um clima propício à oração.

Por todos estes motivos é importante sempre que o canto seja idôneo para a liturgia e, como os objetos litúrgicos, sirva o esplendor do culto com dignidade e beleza.

Uso dos instrumentos
Durante os primeiros séculos da Igreja, diferentemente dos judeus e pagãos, não usou instrumentos musicais no seu culto. O motivo talvez fosse à prudência pelas fortes perseguições ou pela associação ao profano e sensual, dado que os romanos usavam o órgão no teatro e no circo.

Com as invasões bárbaras ao Império Romano o órgão caiu em desuso. Em 757 o imperador bizantino Constantino V doou um órgão ao rei franco Pipino (pai de Carlos Magno), quem não hesitou em coloca-lo em uma Igreja.

Desde então o uso do órgão começou a difundir-se e a Igreja privilegiou seu uso como instrumento mais idôneo para a celebração. Mesmo que se privilegie este instrumento, não se excluem os demais. É preferível, porém, que acompanhem sempre os cantos e não seja só música instrumental. Compete à Conferência Episcopal aprovar os instrumentos aptos para a liturgia.

Conclusão
Santa Cecília é considerada a padroeira da música porque, conforme a ata dos mártires, enquanto caminhava ao seu martírio entoava cantos no seu interior. Que assim também seja a nossa vida, um continuo entoar louvores a Deus no nosso interior adorando-o e rendendo-lhe graças. Concluo com a frase do cardeal brasileiro dom Paulo Evaristo Arns que assim definiu a arte musical: "A música, que eleva a palavra e o sentimento até a sua última expressão humana, interpreta o nosso coração e nos une ao Deus de toda beleza e bondade".

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É preciso sofrer como os santos?

por Anderson Pitz, LC


O mal, e o sofrimento em geral, é e permanece para nós um mistério porque é difícil e, às vezes quase impossível, compreender e aceitar.

O homem e a mulher de todos os tempos experimentam uma grande dificuldade: como conciliar entre si a divina Providência, a solicitude paterna de Deus pelo mundo criado e a realidade do mau e do sofrimento experimentada em diversos modos pelos homens? Antes esta dificuldade expressamos a Deus tantos interrogativos críticos porque realmente nos custa entender. Alguns chegam até a duvidar da existência de Deus por este motivo.

O único modo adequado de encontrar uma resposta a este difícil interrogativo é buscá-lo nas páginas da Sagrada Escritura.

Antes de nada, temos que fazer uma importante distinção. Existem dois tipos de mal: o mal moral, que comporta uma culpa porque depende da livre vontade do homem e será sempre um mal de tipo espiritual. O segundo é o mal físico, que não inclui necessariamente e diretamente a vontade do homem. Às vezes, também podem ser causados pela ignorância ou falta de cautela por parte do homem. Existem alguns males físicos que sucedem independentemente do querer humano como os desastres naturais e, tão triste, as doenças somáticas e psíquicas.

Como conciliar o sofrimento, essa experiência do mal que sentimos, com a solicitude paterna de Deus? Será que Deus realmente não quer o mal? Se Ele permite o mal, pode-se crer que Deus seja amor? Ele é onipotente para vencer e sobrepor-se ao mal?

Não é fácil dar uma resposta. Somente a Palavra de Deus pode nos iluminar. Diz o livro da Sabedoria: “contra a Sabedoria o mal não prevalece” (7,30). Diante do mal, o Antigo Testamento dá testemunho que por encima sempre está a Sabedoria (Deus mesmo) e a bondade do Pai. Esta mesma atitude se desenvolve no livro de Jó, onde dá a entender a caducidade das coisas temporais que são contingentes, passageiras, corrutíveis.

Deus não quer o mal, mas o permite sempre para um bem maior. Diz ainda o livro da Sabedoria: “Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou tudo para a existência” (1,13-14). Explicando esta passagem, o Papa João Paulo II dizia: “os seres materiais somos corrutíveis e padecemos a morte, faz parte da nossa natureza de criaturas”. Que significado mais profundo tem a existência como diz aqui a Sabedoria? Aquela existência na eternidade.

Referente ao mal moral, ou seja, o pecado e a culpa nas diversas formas de males, Deus decisivamente e absolutamente não o quer. Ele poderia interferir? Poderia, porque é onipotente. Não o faz porque respeita a nossa liberdade. A existência de seres livres é para Deus um valor mais importante, ainda que infelizmente estes seres possam usar mal a sua liberdade.

Como reage Deus diante do mau? Deus reage de muitas e diferentes formas como diferentes são os seus filhos, porque Ele sabe o que mais nos convém. Deus sempre tira dos males um bem maior. Talvez não o percebemos, pode ser um bem espiritual para a eternidade. Quando fazemos um mal Deus não castiga, mas dá ainda mais bens, mais amor. Essa é a pedagogia divina. E atua com misericórdia, que significa que nos dá o que não merecemos. Não merecemos o seu perdão, tantos dons e mesmo assim, Ele dá porque nos ama.
Fé, realmente só a fé nos dá forças nestes momentos difíceis. Abraçar-nos a Deus e não soltar-nos porque a dificuldade supera as nossas forças.

Perguntamos: como conciliar o mal e o sofrimento com a Divina Providência. Para responder, a melhor forma é olhar para Jesus, o rosto humano de Deus. Pela sua cruz podemos entender que Deus está presente com cada homem no seu sofrimento, já que Ele tomou sobre si a multidão de sofrimentos da humanidade. Além do mais, Cristo nos ensina que o padecer possui um valor e uma força de redenção e salvadora.
Assim, a cruz não é só um instrumento escuro, insuportável nas nossas vidas, mas se converte em luz que ilumina e dá um novo sentido ao nosso caminhar. As circunstâncias da vida são muito duras muitas vezes. Mas trazem frutos sobrenaturais, benefícios mesmo que seja difícil entender num primeiro momento. Assim se entende a frase de são Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” e conclui: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida... poderá nos separar do amor de Deus”(Rom 8,35-39).

É verdade, ao interrogativo sobre o mal e o sofrimento não encontramos uma resposta imediata. Só gradualmente e com a ajuda da fé alimentada pela oração, se descobre o sentido verdadeiro do sofrimento. Se descobrirmos mediante a fé esta potência e “sabedoria”, nos encontramos na via salvadora da Divina Providência.

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Descobrindo a pessoa de Jesus

Por Anderson Pitz, LC


Neste tema que apresentamos hoje vamos em busca da pessoa de Jesus. Num artigo que escrevi há poucos dias atras, refletia sobre a importância de conhecer também com a razão a nossa fé.
Os elementos que podemos proundizar com a razão, com o conhecimento ajudam enormemente a crescer também na fé, pois damos razão à nossa fé, a fazemos mais humana, no grau que se pode, obviamente.
Hoje refletiremos sobre a pessoa de Jesus.



Quem é Jesus Cristo?

Eis a grande pergunta.
O nome “Jesus” significa “Deus salva”. 
No encontro da semana passada expliquei como o Antigo Testamento prepara e prefigura o que apresenta o Novo Testamento. Se lemos com atenção o A.T. encontramos tantas imagens que de algum modo antecipam acontecimentos do N.T.

O nome de Jesus, tem a mesma raiz hebraica do nome Josué. Josué foi quem sucedeu Moisés, quem conduziu o povo eleito entrando na terra prometida. Jesus, Deus “que nos salva”, nos libera da escravidão do Egito, escravidão do pecado, nos conduz e faz entrar na terra prometida. A terra prometida é a vida de graça, a vida em Deus.
No libros proféticos tantas vezes Deus falou por meio dos profetas anunciando uma salvação. A liberação, a paz, a terra prometida onde jorra leite e mel. Quantas vezes torna na Sagrada Escritura este refrão: “Deus salva”.

Cristo é uma palavra grega que significa “ungido”. É mesmo significado do termo hebraico mashiah (Messias). A unção no A.T. era uma coisa muito importante. Eram ungidos, em nome e por mandato de Deus, os reis, os profetas e os sacerdotes. 
A unção significava ser escolhido por Deus e destinado a uma missão. A unção conferia dons especiais de Deus.
Tudo isso era o que o povo de Israel, ao entrar em contato com Jesus, descobria. Eles escutavam o seu nome e vinha à mente tudo isso: salvador, ungido, profecias.
 
 Os “nomes” atribuídos a Jesus    no N.T?

 Quando se referem à Jesus no N.T.  escutamos tantas formas diversas  de chamaram ele. Vamos explicar  simplesmente cada uma. Assim,  quando lemos o evangelho também  entenderemos melhor.

Filho unigênito de Deus”: unigênito significa único. Jesus é o único filho de Deus Pai. Porque ser filho é ter a mesma essência, ser igual. Um filho de Deus significa que também é Deus. Só Jesus é Deus, junto com o Pai e o Espírito Santo. Nós somos filhos adotivos, porque somos criaturas que Deus criou a sua imagem e semelhança, e por tanto, nos deu esse dom imerecido de ser como seus filhos, com os direitos e deveres de filho. Tantas passagens do N.T. o Pai se dirige a Jesus como seu Filho: batismo: “esse é o meu Filho muito amado”. Na transfiguração. O mesmo Jesus: “ninguém conhece o Pai se não o Filho e quem o Filho o queira revelar”.

Surgem daqui também outros nomes dados a Jesus como Fiho de Deus, o Filho do Homem.

Senhor”: no tempo de Jesus esta palavra se dizia só a Deus. Não podiam pronunciar o nome de YWHW (Jahvé), por máximo respeito. Senhor é sinônimo de Deus. Jesus demonstrou o seu poder divino expulsando os demônios, ressuscitando mortos, perdoando os pecados (“Só Deus pode perdoar os pecados”).
Surgem daqui também outros nomes dados a Jesus como Salvador, Deus, etc.

Mistérios da vida de Cristo

Adentremos agora no que conhecemos da vida e palavras de Jesus. O que sabemos é pelos Santos Evangelhos onde temos um testemunho de quem viu e ouviu o que o Senhor revelou. Se Deus não houvesse revelado não teriamos acesso a conhecer isso da vida divina.

ENCARNAÇÃO: no credo dizemos: “e por nós, homens, e pela nossa salvação desceu dos céus”. Às vezes passamos rápido por estas linhas do Evangelho que narram a encarnação do Senhor. Pensemos um pouco no que isso significa. O mesmo Deus que veio ao mundo, que se fez homem como cada um de nós. Que sentiu frio e calor, cansaço, alegrias e tristezas. Quis sentir nossas limitações e nossas grandezas. Não porque não soubesse, mas para que nos sentissemos solidariezados.

Por quais motivos Deus se fez homem? Gosto de citar esses 4 motivos que diz o catecismo:
          - Para salvar-nos: escolheu esse meio: padecer, morrer na cruz.
     - Conhecêssemos o amor de Deus: que se entrega sem limites, que conhece minhas fraquezas, que se solidariza comigo porque Ele mesmo sentiu o que sinto.
         - Ser nosso modelo de santidade: olhar para Jesus como viveu é olhar um modelo, um exemplo de como quer Deus que vivamos conforme o seu querer ao criar-nos.
        - Participâssemos da natureza divina: redimindo-nos Jesus abriu as portas do céu e nos concedeu a graça, Deus pode habitar agora em nós.

Eis por que dizemos que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igtreja precisou de muito tempo para entender isso que Jesus revelou. Essas duas dimensões não são rivais, nem estão misturadas, nem separadas (por uma parte uma e por outra parte outra). Ele é conjuntamente Deus e homem, ao mesmo tempo. Possui completamente as duas naturezas.
Jesus teve alma, espírito e corpo. Ele trabalhou com suas mãos humanas, pensou com sua inteligência humana, agiu com sua vontade humana, amou com um coração humano. Mas é importante, elevado à potencia perfeita pois Jesus não tinha uma natureza caída como a nossa, com concupiscência. Ele quis sentir nossas limitações humanas, com nossas características. 

VIDA PÚBLICA: terei que ser rápido aqui para não prolongar demais. Simplesmente gostaria de mencionar dois aspectos:

Palavras de Jesus: sempre são palavras com autoridade. Jesus tem uma grande autoconsciencia: ser maior que Moisés e os demais profetas. Sobre a Lei e costumes da época: Jesus respeita mas ao mesmo tempo completa. Prega sobre o Reino de Deus (122 vezes no Novo Testamento). Fala em parábolas. Normalmente no templo, lugar privilegiado da presença de Deus e onde Deus fala. Um enorme significado, pois tem uma importãncia sem igual para os judeus sobre tudo deste período.

Ações de Jesus: os milagres: continuação da pedagogia de Deus no A.T. São gestos da ação espiritual de Jesus: liberadora e salvadora, revelam a sua identidade (“cegos vêem, coxos andam...”), revelam a sua potência divina (explusar demônios, dominio sobre a natureza).

TRIDO PASQUAL: é o centro  contenutístico do Evangelho, onde  há mais páginas, mais descrições.  Indica a sua importância.
       - Juizo religioso: “verão o Filho  do Homem sentado à direita de    Deus”. Duas afirmações: “Filho do  Homem” como já explicamos e  “direita de Deus” que significa igualdade. Revela-se Messias, Deus.
      - Juizo civil: ante Poncio Pilatos. Jesus não fala de um reino terrenal, político mas espiritual.
       - Crucifixão: condena mais dolorosa e difamante. Para escravos. Diz a carta aos Filipenses: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fil 2,6-7).
         - Ressurreição: sabemos o antes e o depois, a ação da ressurreição não está testemunhada mas é obvio. Os textos da ressurreição no Novo Testamento são narrações e homologias, ou seja, profissões de fé. A ressurreição é confirmação das palavras de Jesus, prova da sua divinidade (não ressuscitou como os outros que ele ressuscitou mas logo morreram de novo; Jesus ressuscitou com o corpo glorioso, como nós ressuscitaremos no último dia), esperança da nossa ressurreição.

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Evangelho, crucifixo e Eucaristia


Por Anderson Pitz, LC


Hoje gostaria de indicar três meios concretos para conhecer e amar a Jesus. São meios simples, acessíveis, importantíssimos. Como podemos conhecer e amar mais a Jesus? Eis aqui.


EVANGELHO: 
Na Sagrada Escritura temos um testemunho inefável da presença de Deus. Deus, ao longo da história, encontrou-se com o seu povo eleito e comunicou-se com ele a traves dos seus escolhidos.

O que o Antigo Testamento prefigurava e preparava, nos santos Evangelhos temos o testemunho da sua realização: a vida de Nosso Senhor.

Que bonito se cada um de nós fizesse o hábito de ter na cabeceira da sua cama o Evangelho e todas as noites lesse 10 linhas, sublinhasse.

Aprendendo das atitudes, do exemplo de Cristo, mudamos muitas das nossas atitudes também.


CRUCIFIXO: 
O segundo meio privilegiado para conhecer a Cristo é olhar o crucifixo. Muitos de nós o levamos pendurado no peito, sempre perto do nosso coração.

Na cruz, Jesus nos deu a maior prova do seu amor. Voltando ao tema do conhecimento: lembro-me de ter lido, naquela triste tragédia de Santa Maria, o testemunho de um jovem que durante o incêndio salvou a várias pessoas. Ele entrou três ou quatro vezes dentro da nuvem de fumaça para resgatar pessoas. Infelizmente não sobreviveu. O final da história é triste mas faz pensar muito. As pessoas salvas por ele devem a sua vida a este jovem. Quanto o agradecem. Foi seu salvador.

Assim mesmo foi Jesus. Ele deu a sua vida por nós e o crucifixo é testemunho disto. Por isso o levamos no peito, para nunca esquecermos do ato infinito de amor que Deus fez por mim, deu a sua para resgatar-me. E o levo perto do meu coração para amá-lo cada dia mais e não ser indiferente.

Em cada igreja preside sempre um crucifixo. Nas escolas, hospitais, tomara que nas nossas casas também, presida sempre o crucifixo.
Que nunca percamos de vista Jesus, olhemos para Ele e aprendamos o quanto nos ama. Não nos esqueçamos de agradecer-lhe.


EUCARISTIA: 
Cada vez que explico as realidades espirituais gosto muito de comparar com a vida que nos rodeia.

Jesus nos ama tanto que não quer ficar longe de nós. Quando duas pessoas se amam, a pior coisa que pode passar é ter que ficar longe um do outro por um período. Bem, depende, às vezes alguns esposos dão graças.

Na Eucaristia Jesus quis permanecer conosco. No pão, para ser nosso alimento e dar-nos força para o caminho, que Ele bem sabe que não é fácil. E no sacrário, para que, cada vez que precisamos, vamos a conversar com Ele.

Que bonito essas pessoas que entram de vez em quando numa igreja por onde passam, se ajoelham diante de Jesus na capela do Santíssimo e dirigem um diálogo a Jesus.

Jesus deve ser meu amigo. Ele quer ser meu amigo. Ele está ali esperando para que você vai e diga como está, o que te está preocupando, o que tu quer pedir-lhe. Os amigos confiam-se as coisas, se aconselham, pedem ajuda. Esta deve ser a nossa relação com o nosso amigo Jesus.

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A alegria de entregar-se

por Alice Bresolin




A sociedade atual é uma grande defensora da realização pessoal dos indivíduos. Se por um lado é verdade que todo homem busca realizar-se, por outro, é possível questionar as vias para alcançar essa realização. 

Entre os slogans mais repetidos, sobressaem ideias de cunho narcisista-hedonista tais como: “faça o que tiver vontade”, “aproveite a vida”, “viva o prazer sem limites”.

No entanto, a vivência dessas máximas de felicidade termina frequentemente em um estado de vazio e frustração. Para quem já experimentou de tudo, chega-se a um ponto em que nada satisfaz.

Apesar disso, a felicidade não é algo inalcançável. A alegria de viver é parte do ensinamento que Cristo transmitiu com sua vida e mensagem. Eis a sua fórmula de realização pessoal: Há maior alegria em dar do que em receber. (Atos 20,35). 

O paradoxo da felicidade consiste em encontrar a própria realização em algo que vai muito além de si mesmo e é capaz de redimensionar as diversas situações da vida. A alegria de entregar-se é mais profunda e duradoura que o gozo de um bem passageiro. Nasce da experiência de velar pelo outro acima da recompensa e da satisfação pessoal que isso possa proporcionar. 

Só assim, na liberdade de perde-se por amor, é que o homem reencontra verdadeiramente a si mesmo e descobre na própria vida a veracidade da mensagem de Cristo.

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A fé para um católico

por Mairon Gavlik, LC


Um equilibrista iria dar um show em Roma; passava de um prédio a outro sobre um cabo de aço com o apoio de uma barra... Atravessou uma vez e foi muito aplaudido. Desce do edifício, agradece, pede um momento de silêncio e diz: “Cruzarei agora sem la barra de equilibrio, mas preciso que vocês acreditem que eu possa atravessar”. Todos responderam: “Tu podes, eu confio em ti...”. Sobe e atravessa com facilidade. O aplauso cresce. Agradece outra vez e pede outro momento de silêncio; depois diz: “Cruzarei agora com um carrinho de mão; somente preciso que alguém de voçês acredite que eu possa de verdade atravessar”. Depois de um tempo de silêncio, um jovem responde: "Tu podes, eu confio em ti... ". Então o equilibrista lhe diz: “se de verdade crês que posso atravessar, senta no carrinho de mão e vem comigo”. E assim foi. 

A fé é semelhante a esta história do equilibrista; a diferença é que Deus é onipontente e nunca falha. Às vezes escutamos falar sobre a fé, mas o que é a fé para um católico? O catecismo da Igreja Católica diz que a fé é a resposta livre do homem a revelação Deus. Mas como Deus se revela e o quê nos revela? Deus mostra aos homens como é através da sua criação, mas principalmente falou de si por meio do seu Filho, Jesus Cristo, e do seu povo eleito.



Deus chama a Abraão e lhe pede deixar sua terra para ir a outro lugar onde Deus mesmo lhe mostraria. Abraão acredita em Deus, confia nele e com 75 anos começa sua peregrinação. Deus lhe promete terra, descendência e sua benção. Depois de 25 anos nasceu seu filho Isaac. Deus pede oferecê-lo em sacrifício e Abraão confia em Deus sabendo que Deus podia tudo, inclusive dar nova vida a seu filho (Heb 11,12). Porque Abraão acreditou em Deus contra todos os obstáculos, Deus lhe abençoou com um povo numeroso.

É interessante como os Evangelhos relatam a relação de Jesus com os enfermos. Sempre que confiavam nele saiam curados: “tua fé te salvou, vai em paz”. Jesus nos revelou que Deus é amor e que amou tanto aos homens que lhes deu seu Filho unigênito em reparação pelos seus pecados (I Jo 4,10). Deus é amor e Cristo crucificado é a maior prova deste seu amor por cada homem. Como Cristo nos ensinou a rezar? Quais são as primeiras palavras? Não são “Pai Nosso” ? Jesus nos ensinou que Deus é amor e é nosso pai.

A fé, antes que ser um ato de conhecimento é uma atitude do homem, um ato de confiança numa pessoa que me conhece e me ama (Bento XVI, 25 de outubro de 2013). São Paulo ao final da sua vida dizia: “sei em quem coloquei minha confiança e estou certo disto”. Esta deve ser a resposta de um católico a Deus: acreditar nas suas promessas, crer que Ele é poderoso e que guia minha história. O católico que vive de fé nunca estará só, pois sabe que Deus caminha com ele (Sal 23). A fé é a alma da oração, da própria relação com Deus, é o específico do católico. Peçamos, “Senhor eu creio em ti, aumentai minha fé”. Que Maria, mulher da fé nos ensine e nos acompanhe nesta peregrinação de fé rumo ao céu.



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