Por Celso Júlio da Silva LC

É uma grande arte dizer muito com poucas palavras, qualidade de pessoas que não se complicam com tantas ideias, mas que tocam a profundidade, fugindo da superfície. Por isso, desejo destacar dois aspectos da homilia: brevidade e profundidade, que estão demarcadas na “Evangelii gaudium” como um ponto urgente da Nova Evangelização.

A brevidade é uma arte de poucos. Sejamos realistas: homilia longa cansa e acaba se perdendo no ar. Homilias para crianças que passam de dez minutos é cansativa. Homilias para jovens e adultos não podem passar de dez minutos, máximo quinze minutos e ainda é muito. Porém, isto não é “Verbum Dei”, não existe uma tabela fixa que estabelece a duração das homilias, mas se trata de um “sentido comum”, que é o menos comum dos sentidos.

Hoje em dia a concentração das pessoas costuma ser reduzida. A nossa cultura é a das imagens rápidas, do mais rápido possível, do “fast-food”, e por isso o sacerdote não se arrisque com uma homilia de meia hora porque as pessoas com certeza se desconectarão. “A homilia é um gênero peculiar, desde o momento que se trata de uma pregação dentro do marco de uma celebração litúrgica; consequentemente deve ser breve e evitar parecer uma conferência ou uma aula. O pregador pode ser capaz de manter vivo o interesse das pessoas durante meia hora, mas assim a sua palavra se torna mais importante que a celebração da fé. Se a homilia se prolonga demais, dana duas características da celebração litúrgica: a harmonia entre as suas partes e o seu ritmo”. (Evangelii Gaudium, cap:3; sobre a homilia).

Sinônimo de homilias longas é “indigestão espiritual”. Muitas ideias bonitas e nutridas de devoção, mas que não oferecem aos fiéis, o que o mesmo Jesus ensinou: “dai-nos hoje o pão de cada dia”. Tem sacerdotes que não dão só o pão de cada dia, mas dão um banquete que provoca “indigestão espiritual”, muitas ideias e nenhuma ideia para saborear e rezar. Dai-nos hoje um único pão! O pão da liturgia do dia, essa capacidade e esforço de transmitir uma só ideia, bem articulada e, sobretudo, rezada com anterioridade.

E por isso se nota que, quando a homilia é breve, é porque detrás teve caneta e papel, ademais da boa vontade do sacerdote de sentar-se, orar com a Palavra em mãos e estruturá-la com amor. Significa não ter preguiça de preparar as homilias! “A preparação da homilia é um dever tão importante que convém dedicar tempo prolongado de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral”; este é um grande desafio para todos os sacerdotes porque “um pregador que não se prepara não é espiritual, é desonesto e irresponsável com os dons que recebeu” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia).

Passemos à profundidade. Do latim “altus-a-um” que significa tanto alto como profundo. Na pregação “altum” é- e aqui uso uma linda imagem- como subir uma montanha. Quando o montanheiro quer chegar ao topo da montanha, tem que levar o essencial dentro da mochila, para subir leve e com facilidade. Uma homilia é subir uma montanha. O pregador para tocar o cume dos corações dos ouvintes deve transmitir o coração da Palavra de Deus e não um “camelô” de ideias periféricas bonitas, que acaba pesando a sua mochila. Assim não chegará nunca ao topo dos corações das pessoas. A sua missão é provocar um contato de amor entre dois corações, um na terra, outro no céu, o do homem e o de Deus, oferecendo-se como porta-voz dos textos proclamados na liturgia do dia.

“Profundidade” consiste em oferecer aos corações dos fiéis o coração da Palavra de Deus. Esta ideia de altura e profundidade simultânea nasce do pensamento do papa Francisco: “o objetivo não é entender todos os pequenos detalhes de um texto, mas descobrir qual é a mensagem principal que confere estrutura e unidade ao texto. Se o pregador não cumprir este esforço, é possível que nem a sua pregação tenha unidade e ordem... A mensagem central é a que o autor quis transmitir em primeiro lugar, o que implica não só reconhecer uma ideia, mas também o efeito que aquele autor quis produzir” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia).

A homilia naturalmente exige profundidade. O que implica que o pregador deve orar e pregar com as coisas do povo de Deus, com as lágrimas e as alegrias, com as vitórias e as derrotas, com os erros e os acertos da sua comunidade, tocando a carne sofrida de Cristo na carne concreta das pessoas que escutam a homilia, tocando os seus problemas, as necessidades e os sonhos, o que evita aquelas homilias de voos intermináveis, que nunca aterrissam nas coisas concretas da vida cristã. “A pregação puramente moralista ou sem doutrina, e mais ainda a que se transforma numa aula de exegese, reduz esta comunicação entre os corações que se dá na homilia e que deve ter um caráter quase sacramental... Não se trata de verdades abstratas ou de frios silogismos, porque se comunica também a beleza das imagens que o Senhor usava para estimular a prática do bem” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia).

A profundidade vai da mão da brevidade porque “onde está a sua síntese, ali está o seu coração” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia). Síntese que é ser breve e coração que é a profundidade que, ao mesmo tempo, provoca o encontro entre dois corações, o de Deus e o do seu povo. Brevidade e profundidade gerarão, não cabe dúvida, saborosas homilias.                


Leave a Reply