por Anderson Pitz, LC


O mal, e o sofrimento em geral, é e permanece para nós um mistério porque é difícil e, às vezes quase impossível, compreender e aceitar.

O homem e a mulher de todos os tempos experimentam uma grande dificuldade: como conciliar entre si a divina Providência, a solicitude paterna de Deus pelo mundo criado e a realidade do mau e do sofrimento experimentada em diversos modos pelos homens? Antes esta dificuldade expressamos a Deus tantos interrogativos críticos porque realmente nos custa entender. Alguns chegam até a duvidar da existência de Deus por este motivo.

O único modo adequado de encontrar uma resposta a este difícil interrogativo é buscá-lo nas páginas da Sagrada Escritura.

Antes de nada, temos que fazer uma importante distinção. Existem dois tipos de mal: o mal moral, que comporta uma culpa porque depende da livre vontade do homem e será sempre um mal de tipo espiritual. O segundo é o mal físico, que não inclui necessariamente e diretamente a vontade do homem. Às vezes, também podem ser causados pela ignorância ou falta de cautela por parte do homem. Existem alguns males físicos que sucedem independentemente do querer humano como os desastres naturais e, tão triste, as doenças somáticas e psíquicas.

Como conciliar o sofrimento, essa experiência do mal que sentimos, com a solicitude paterna de Deus? Será que Deus realmente não quer o mal? Se Ele permite o mal, pode-se crer que Deus seja amor? Ele é onipotente para vencer e sobrepor-se ao mal?

Não é fácil dar uma resposta. Somente a Palavra de Deus pode nos iluminar. Diz o livro da Sabedoria: “contra a Sabedoria o mal não prevalece” (7,30). Diante do mal, o Antigo Testamento dá testemunho que por encima sempre está a Sabedoria (Deus mesmo) e a bondade do Pai. Esta mesma atitude se desenvolve no livro de Jó, onde dá a entender a caducidade das coisas temporais que são contingentes, passageiras, corrutíveis.

Deus não quer o mal, mas o permite sempre para um bem maior. Diz ainda o livro da Sabedoria: “Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou tudo para a existência” (1,13-14). Explicando esta passagem, o Papa João Paulo II dizia: “os seres materiais somos corrutíveis e padecemos a morte, faz parte da nossa natureza de criaturas”. Que significado mais profundo tem a existência como diz aqui a Sabedoria? Aquela existência na eternidade.

Referente ao mal moral, ou seja, o pecado e a culpa nas diversas formas de males, Deus decisivamente e absolutamente não o quer. Ele poderia interferir? Poderia, porque é onipotente. Não o faz porque respeita a nossa liberdade. A existência de seres livres é para Deus um valor mais importante, ainda que infelizmente estes seres possam usar mal a sua liberdade.

Como reage Deus diante do mau? Deus reage de muitas e diferentes formas como diferentes são os seus filhos, porque Ele sabe o que mais nos convém. Deus sempre tira dos males um bem maior. Talvez não o percebemos, pode ser um bem espiritual para a eternidade. Quando fazemos um mal Deus não castiga, mas dá ainda mais bens, mais amor. Essa é a pedagogia divina. E atua com misericórdia, que significa que nos dá o que não merecemos. Não merecemos o seu perdão, tantos dons e mesmo assim, Ele dá porque nos ama.
Fé, realmente só a fé nos dá forças nestes momentos difíceis. Abraçar-nos a Deus e não soltar-nos porque a dificuldade supera as nossas forças.

Perguntamos: como conciliar o mal e o sofrimento com a Divina Providência. Para responder, a melhor forma é olhar para Jesus, o rosto humano de Deus. Pela sua cruz podemos entender que Deus está presente com cada homem no seu sofrimento, já que Ele tomou sobre si a multidão de sofrimentos da humanidade. Além do mais, Cristo nos ensina que o padecer possui um valor e uma força de redenção e salvadora.
Assim, a cruz não é só um instrumento escuro, insuportável nas nossas vidas, mas se converte em luz que ilumina e dá um novo sentido ao nosso caminhar. As circunstâncias da vida são muito duras muitas vezes. Mas trazem frutos sobrenaturais, benefícios mesmo que seja difícil entender num primeiro momento. Assim se entende a frase de são Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” e conclui: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida... poderá nos separar do amor de Deus”(Rom 8,35-39).

É verdade, ao interrogativo sobre o mal e o sofrimento não encontramos uma resposta imediata. Só gradualmente e com a ajuda da fé alimentada pela oração, se descobre o sentido verdadeiro do sofrimento. Se descobrirmos mediante a fé esta potência e “sabedoria”, nos encontramos na via salvadora da Divina Providência.

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