por Anderson Pitz, LC


O homem está constituído de corpo e alma. Estas duas dimensões fazem que a realidade seja aceita por nós através da fé e da razão. Assim, podemos dizer que existem duas realidades: as que captamos pelos nossos sentidos – vista, tato, ouvido, etc. – (realidade material) e as que transcendem o material (realidade sobrenatural) as quais alcançamos pela razão ou, às vezes, só pela fé.
 
Deus nos fez seres racionais, queremos entender as coisas, convencer-nos. Uma verdade é aceitável quando é credível e para ser credível temos que percorrer os passos do nosso raciocínio. Isso é sadio e Deus, que nos deu esta natureza, quer que cheguemos a Ele também pela razão. Não devemos ter medo de querer entender as coisas sobrenaturais, é mais, é importante faze-lo. Só assim faremos nossa aquela verdade, estaremos convencidos dela. Mas sempre conscientes que nem tudo pode ser alcançado pela nossa mente porque o mistério de Deus é infinito e incapaz de entrar na nossa pequena capacidade.
 
Uma vez, santo Agostinho caminhava pela praia refletindo sobre o mistério da Santíssima Trindade. Mais a frente encontrou-se com um menino que brincava na areia. A criança tinha aberto um pequeno buraco e com o seu baldinho trazia água do mar e enchia o orifício. Agostinho ficou observando-o e cheio de curiosidade lhe perguntou: “o que pretendes fazer?” O menino respondeu: “colocar toda a água do mar aqui dentro”. O santo respondeu: “mas isso é impossível”. Respondeu-lhe ainda a criança: “será mais fácil que eu consiga colocar aqui toda a água do oceano que tu consigas colocar dentro da tua mente o mistério da Santíssima Trindade”. E naquele momento o pequeno desapareceu.
 
Algumas realidades só a fé pode alcançar. Muitas outras podem ser compreendidas pela nossa mente. E devemos tentar, nos dará muita segurança. Uma vez que Deus é fiável, é razoável ter fé Nele, construir a própria segurança na sua Palavra. Reafirmam-se os nossos passos neste caminho.
 
Na cultura contemporânea, tende-se frequentemente a aceitar como verdade apenas a da tecnologia: é verdadeiro aquilo que o homem consegue construir e medir com a sua ciência; é verdadeiro porque funciona, e assim torna a vida mais cômoda e aprazível. Esta verdade parece ser, hoje, a única certa, a única partilhável com os outros. Depois, haveria a verdade do indivíduo, como ser autentico face aquilo que cada um sente no seu íntimo, válidas apenas para o sujeito, mas que não podem ser propostas aos outros com a pretensão de servir o bem comum. A verdade grande, aquela que explica o conjunto da vida pessoal e social, é vista com suspeita.
 
O cristão permeia a sua vida com Deus. A sua fé não deve ser rejeitada ao âmbito meramente pessoal, individual. A fé deve iluminar todos os âmbitos da sua vida, deve acompanhá-lo em todos os momentos, em todos os lugares, sem medo ou respeito humano.
 
Está errado pedir sinais? Deus é pai e nos compreende perfeitamente. Ele sabe que nossa fé nem sempre é forte e que às vezes precisamos uma ajuda. No evangelho encontramos uma resposta. Algumas vezes os sinais precediam a fé (um milagre fazia que os protagonistas acreditassem), outras a fé fazia que levasse a uma visão mais profunda (“a tua fé te salvou”). O maior sinal de Deus é Jesus, no qual vemos o rosto de Deus. Deus se fez homem para dar-nos um sinal, o maior sinal. Feito homem, Jesus tocou-nos e ainda hoje nos toca, por meio dos sacramentos. Desta forma, transformando o nosso coração, permitiu-nos – e permite-nos – reconhece-Lo e confessá-Lo e receber forças da sua graça.
 
Peçamos o dom da fé. A fé que alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência. Que outra recompensa poderia Deus oferecer àqueles que o buscam, senão deixar-se encontrar a si mesmo?

Leave a Reply