Por João Paulo Alves LC

 “Filosofia serve só para discutir, criar perguntas sem encontrar respostas, e dizer que, ao final tudo, depende do ponto de vista de cada um e por isso, melhor nos dedicarmos a fazer algo que valha a pena em vez de perder o tempo com ideias inúteis.” 
Não pouco frequentemente se escutam opiniões assim, mesmo em meio a quem se declara católico, pois, segundo eles, ao final de contas o que importa mesmo é a sua fé em Cristo. O mais interessante é que os autores dessas proezas não se dão conta do fato de que, se se busca causas para explicar a inutilidade da filosofia, já estão filosofando.
Em primeiro lugar, filosofia se define como estudo de toda a realidade por suas causas últimas. Isso quer dizer que, o fato de que você seja intelectualmente capaz de ler este artigo ou até o fato de que um embrião que se forma como uma pessoa dentro do útero da sua mãe, tem a possibilidade de um estudo filosófico por detrás, pois são ambas as realidades.
A realidade constitui o mundo no qual vivemos e que, por força da experiência imediata do mesmo, não o podemos negar. Por isso sendo a filosofia o estudo das causas ultimas, a cada vez que se pergunta: “Quem sou eu?” “Porque existo?” “Qual é minha finalidade nesse mundo”- pode-se saber que, ainda que inconscientemente, se realizou um profundo percurso filosófico ao interno da mente, visto no fato de ir à raiz da existência de uma coisa ou pessoa que nos porta à busca por uma causa última.

Vê-se que essa busca não é algo que apareceu no homem somente algumas décadas atrás. Ela é parte essencial da natureza humana e constitui o desenvolvimento da filosofia especialmente em Grécia e Império Romano. Cícero, por exemplo, considerava a filosofia como a corretora de vícios e seu refúgio em meio desses, além do mais se indagava do que teria sido dele, dos homens e da sociedade, se não fosse pela influência da filosofia nas suas vidas. Sua pena consistia em perceber um desprezo entre os homens para com o reconhecimento do valor da mesma e assim lhes atribui a ignorância como causa de tal desprezo (Tusculanae Disputationes V, 2).

Algo não muito diferente se vê hoje, percebe-se um desprezo, mas mais ainda que a sociedade não pode sobreviver sem o sustento da filosofia, que se faz evidente à vida do homem. Tal evidência se percebe a cada filme que se vê durante uma tarde de sábado. Existe nesses um bombardeio de informações que expressam as ideias filosóficas do produtor. Não necessariamente toda informação transmitida é consoante com a verdade, mas ao menos é uma expressão clara de uma determinada filosofia (seja fundada nos valores pessoais de quem produz ou no estudo dos valores transcendentais ao homem). 
Suponhamos que em um filme se apresenta que o mundo não existe e tudo é apenas uma criação dos nossos pensamentos (qualquer semelhança com Matrix é uma mera coincidência), já há aqui certa filosofia, sendo feita por mais pobre que essa seja, pois para mostrar sua inautenticidade bastaria pôr-se a mão sobre o fogo e ver que meus pensamentos são capazes de fazer com que minha mão seja imune.
  “Os heróis devem matar os vilões.” “Posso ter relações sexuais na primeira noite após ter conhecido uma garota” “Tenho controle de minha vida não preciso de meus pais me seguindo a todo o momento.” Ideias como essas estão correntemente sendo presentadas à nossa mente, não somente em filmes, mas escutando a rádio, lendo um livro, ou assistindo a uma série de televisão. Mas são essas realmente verdades? Dependem da opinião de cada um sobre o tema ou há um principio objetivo em cada uma delas? Só chegaremos a essas conclusões se raciocinarmos e se buscarmos os porquês e, por isso, não podemos negar o valor de filosofar.
Nem tudo é relativo, pois afirmá-lo já faria dessa uma afirmação absoluta e, consequentemente, levaria todo o sistema, por mais bonitinho que seja, por água abaixo. Creio que melhor seria analisar o que conhecemos com a filosofia? Conhecemos a verdade. Conhecemos o porquê de nossa existência, conhecemos quem somos e aonde vamos. Conhecemos não somente a verdade, mas A Verdade, pois se existimos é porque viemos de uma Causa que nos criou, uma Causa que voluntariamente e sem modificar-se criou tudo e a quem tudo retorna uma Causa que é perfeita, ato puro, subsistente e eterna. E, conhecendo essas verdades, somos capazes de dar um passo a um nível que a mesma filosofia já não pode alcançar, mas sim nos prepara: conhecer que essa Causa nos amou e nos criou a Sua imagem e semelhança e enviou Seu Filho único por amor a Suas criaturas.
Não se pode afirmar que a filosofia seja inútil, nem menos contraria à fé, nem é coerente que algum cristão duvide de sua necessidade , pois os mesmos padres da Igreja e Escolásticos buscaram o estudo da fé por meio da filosofia e a síntese entre as duas, dando-lhes os seus respectivos papéis na busca para a verdade. A cada vez que se tenha dúvida se realmente a filosofia é valida para um cristão, deve-se lembrar de que foi a mesma Verdade quem disse: “Eu sou o caminho a Verdade e a Vida” (Mt 14,16).

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