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O divórcio é uma agressão à carne de Jesus Cristo
Por Celso Júlio da Silva LC
Um dos temas do Sínodo sobre a família foi o do divórcio, triste realidade que produz a desestruturação de várias famílias. As relações atuais do Sínodo não são conclusões que devem ser tomadas como Magistério da Igreja, mas como uma visão concreta e atual das famílias do nosso tempo e a relação do empenho pastoral neste campo com as devidas aplicações doutrinais no mesmo.
Aqui somente desejo despertar as
consciências de todos os que já estão casados e dos que pensam em se casar.
Trata-se de uma visão profunda sobre a sacralidade matrimonial, que não se
trata de “amor-fantoche” e sobre o fato de que um caso de divórcio é um pecado
grave, porque não se dá só a fratura entre os cônjuges, que livremente formaram
uma só carne na carne do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, mas que, com o
divórcio, também agridem a carne de Jesus Cristo.
1.Uma só carne na Carne de Cristo:
Amor à primeira vista, flechaço numa manhã de primavera, sensações e sentimentos bonitos de um instante... Isto é matrimônio? Claro que não! Isto pode ajudar os noivos a tomarem uma decisão séria para o resto das suas vidas. Porém, quantos namorados pensam assim? Tem uns que pensam que casar é mero protocolo civil e, para não escandalizar ninguém, é bom dar uma passadinha no altar paroquial, senão... Contudo, matrimônio é sacramento, onde o amor humano entre um homem e uma mulher encontra plenitude e fecundidade no seio da Igreja, Corpo Místico de Cristo, e portanto, amor que se realiza e se fecunda na Carne de Jesus Cristo, de cujo Corpo, que é a Igreja, Ele é a Cabeça.
O amor matrimonial é uma entrega
total ao outro, “de tal maneira que não são dois, mas uma só carne” (Mt 19,6). E
o desejo de Deus é que os cônjuges sejam conscientes de que Ele é o primeiro
interessado na fecundidade dessa união e que não se quebre jamais, porque “o
que Deus uniu o homem não separe” (Mc 10, 9). Casar-se na Igreja Católica quer
dizer estar insertado na graça divina, participar do plano amoroso a partir da
união sacramental com a carne mesma de Cristo.
É maravilhoso reconhecer que um
casal só fecunda no amor e na união quando olham ambos a mesma Pessoa: Jesus
Cristo e Nele aprendem a ser esposo e esposa que se entregam um ao outro. Nisto
captamos a riqueza do que diz são Paulo aos Efésios: “Maridos, amem as suas
mulheres como Cristo amou a sua Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 25). Realmente
muitas separações não aconteceriam se tudo isto fosse o farol dos casais no
meio das trevas pelas quais às vezes atravessam.
2.Uma só carne que não é “amor-fantoche”:
Também é verdade que a vida
matrimonial custa, às vezes dói e o casal pode chegar num ponto em que dá
vontade de gritar um para o outro, de gritar à própria carne: “não aguento mais
você”. E por que isto acontece? Porque o amor inicial se esfria diante das
dificuldades que a mesma convivência supõe. Basta um engano, em erro, uma
precipitação e pode acontecer do casal começar a claudicar no amor e afirmar
que nunca existiu amor de verdade e como conclusão: divórcio.
As dificuldades matrimoniais não
enfraquecem uma verdadeira união de corações, mas revelam se entre os dois
reina um amor de verdade e não um “amor-fantoche”. Que longe vão ficando no
tempo e quão perto das exigências diárias aquelas promessas nupciais de “ser
fiel na saúde e na doença, na tristeza e na alegria, em todos os dias da minha
vida”... E como disse o papa Francisco: “de repente começam a voar os pratos”.
Começam as diferentes opiniões, afloram os temperamentos, chegam os dias
nublados no horizonte matrimonial... Mas isso faz parte! Porém, uma coisa e
fundamental: os pratos podem sair voando pela janela, mas nunca um casal deve
terminar o dia sem olhar um para o outro e dizer: “desculpe. Vamos dar um
jeito... Eu te amo!” Só assim um casal vai para frente com a ajuda de Deus!
3.Uma agressão à carne de Cristo:
No final das contas, o que é o
divórcio? É um sacrilégio, é uma agressão a essa “uma só carne” que Deus uniu.
Pensemos nesta analogia: ninguém corta a própria cabeça só porque tem dor.
Ninguém arranca o próprio braço só porque sofreu um arranhão. Mas quando dói a
cabeça, toma-se um remédio, dá tempo e melhora. Quando se arranha o braço,
espera cicatrizar, deixa que passe um tempo e melhora. Agora, diante desta
analogia, que sentido tem o divórcio, senão o de uma autêntica agressão a essa
“uma só carne” que às vezes dói, custa e se machuca na convivência diária?
Por isso, a Igreja não aprova o
divórcio e Deus se entristece, porque detrás de cada divórcio existe um deserto
gigantesco de quem não sabe que amor autêntico é doação tanto nos dias floridos
de primavera como nos dias de tempestade. Quebra-se a união entre os cônjuges
(uma só carne), e automaticamente se quebra a união com Jesus Cristo(uma só
carne na Carne de Cristo) e com a sua Igreja, e por isso não é lícito comungar,
porque separação e comunhão são duas realidades contraditórias.
Com
razão Pascal afirmou que Cristo está sofrendo a sua paixão ao longo da história
da humanidade, pois quando um casal diz um para o outro: “estou cansado de
você, já não te amo”, outra vez Cristo é levado ao patíbulo da cruz, sente a
dor dos pregos nas mãos e nos pés, porque sofre a separação dessa “uma só
carne”, que existe substancialmente na Sua Carne por meio do sacramento do matrimônio,
que é uma das gotas que fluiu do seu lado aberto de amor por nós na cruz.
O casal que opta por se divorciar já
não olha para Jesus Cristo, mas olha cada um o seu próprio interesse egoísta e,
se o casal tem filhos, quanto sofrem os pobres filhos! Quem se divorcia agride
essa “uma só carne” sacramental, “uma só carne na Carne de Cristo”, atenta
contra a carne de Jesus Cristo, ofende a Pessoa de Cristo e já não sabe o que é
amar e ser amado, porque despreza a fonte mesma do Amor, o Amor mesmo.
É verdade que os divorciados também
sofrem com esta situação, mas eles também não devem esquecer que quem sofre
primeiro é Jesus Cristo, porque Quem nos amou primeiro também aceitou correr o
risco de sofrer primeiro, de carregar nos próprios ombros o peso da nossa
ingratidão e dos nossos pecados, e no caso de um matrimônio, o triste peso de
um divórcio.
Oração:
Senhor Jesus, fortalecei no amor e na união todos os casais e ajudai os
divorciados a encontrar o caminho de volta à graça para que não ofendam mais a
vossa Carne e não quebrem para sempre o amor entre eles, amor que Vós unistes
numa só carne sacramental. Amém.
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