Gildásio Júnior G. Almeida - Licenciado em Filosofia pelo Istituto São Tomás de Aquino – BH. Atualmente estuda teologia no Seminário Mater Ecclesiae do Brasil.





Cada um de nós temos uma história pessoal pela qual o hoje de nossa vida é profundamente marcado e influenciado. Quando voltamos às páginas que perfazem nosso passado, percebemos uma série de situações e de acontecimentos diante dos quais podemos concluir que o curso de nossa vida, teria sido negativamente diferente se tivéssemos feito esta ou aquela escolha, se não tivéssemos dado ouvido àquela intuição, àquele pensamento que nos ajudou a resolver certos problemas e a evitar consequências danosas para nossa vida física e espiritual... Um olhar profundo sobre tudo isso, nos leva a concluir que por traz de muitos desses eventos há uma providência, uma realidade espiritual que nos acompanha e nos auxilia de modo ordinariamente velado e misterioso.

Que realidade é esta? Pela Revelação Divina, da qual a Igreja é fiel depositária, sabemos que são os anjos. Mas o que nos ensina a Igreja sobre estes seres tão conhecidos, mas ao mesmo tempo tão desconhecidos em sua verdadeira natureza? Em nosso Credo Niceno Constantinopolitano professamos que Deus é criador das “coisas visíveis e invisíveis”, e destas ultimas fazem parte os anjos. Portanto, como afirma o Catecismo da Igreja, são seres “puramente espirituais, dotados de inteligência e de vontade, são criaturas pessoais e imortais” (n. 330). São chamados de anjos, não por causa de sua natureza, mas do seu encargo, que é ser mensageiros de Deus. Assim, quanto à natureza é um espírito e quanto ao encargo é um anjo (n. 329).

Pelas Escrituras Sagradas, conhecemos diversas intervenções divinas por meio destes seres no decorrer da História de nossa Salvação: “fecham o paraíso terrestre (Gn 3,24)... seguram a mão de Abraão (Gn 22,11)... conduzem o povo de Deus (Ex 23, 20-23), anunciam nascimentos e vocações...” (n.332). Toda a vida terrena de nosso Senhor, a vida da Igreja e dos santos, como Santa Teresa de Jesus, Santa Gema Galgani, São Pe. Pio, são também marcadas pela ação extraordinária destas criaturas espirituais. Assim, se por um lado toda a História da Salvação e da Igreja é permeada pela presença dos anjos, por outro ocorre o mesmo em nossa historia pessoal, embora de formas diferentes. Do inicio ao final de nossa vida somos acompanhados por um anjo que, como protetor e pastor, tem por missão nos conduzir à Deus (n. 336), à nossa pátria celeste.

Ao olhar para as diversas etapas de minha vida, posso enxergar com gratidão que a fé na presença destes amigos ao meu lado foi sempre presente ao longo do meu caminho. Durante minha infância, quando comecei a receber minhas primeiras lições de catequese, sabia que ele, meu anjo da guarda, estava sempre ao meu lado, e por isso não hesitava em falar com ele, em pedir sua ajuda diante de alguma situação de medo e até o imaginava chorando quando eu fazia alguma travessura. Mas conforme os anos foram passando e a infância sedia lugar à adolescência, fui perdendo essa intimidade com o meu anjo. Mas ela voltaria através de um amigo, já maduro na idade e na vida espiritual, que muito me falava de suas experiências com os anjos. Dos seus olhos vertiam lágrimas sempre que deles me falava. Ouvi-lo era sempre para mim uma experiência verdadeiramente sobrenatural. Então aos poucos a atenção do meu coração se voltava novamente para este anjo amigo colocado por Deus ao meu lado. E percebia seu auxílio em muitas situações, simples e concretas. Uma delas ocorreu quando eu participava de um grupo de jovens e recebi o encargo de dirigir uma das reuniões. Então algumas horas antes do início do encontro, que neste dia aconteceria no centro catequético da minha paróquia, fui preparar a sala para o momento. Enquanto preparava, veio-me o pensamento de que eu deveria ir imediatamente até a porta do centro. Não havia motivo algum para eu fazer isso, no entanto obedeci. Quando lá cheguei, deparei-me com um ladrão roubando minha bicicleta e imediatamente a retomei (é claro que ele não estava armado, caso contrário não o faria!). Não tenho dúvidas de que aquele pensamento sem nenhum motivo por mim conhecido, foi fruto, por assim dizer, de um sussurro do meu anjo da guarda aos meus ouvidos. Posso perceber a presença deste companheiro em muitas outras situações de minha vida, bem como em escolhas que me marcariam para sempre.

Portanto, os anjos, como servidores e mensageiros de Deus, conforme constatamos nas Sagradas Escrituras, fazem parte da História de nossa Salvação, e na sucessão de eventos e acontecimentos colaboraram com Ele para levá-la ao seu objetivo, ou seja, à nossa Redenção; mas Deus quis ainda deles dispor, tornando-os nossos guias e protetores. Assim, munidos de um olhar de fé, podemos ver por traz de muitas situações e acontecimentos de nossa vida, sua presença e sua ação que tem como único objetivo nos conduzir, de modo livre e particular, ao termo de nossa história que é o encontro pleno e definitivo com nosso Senhor. 

 

 

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