Saborosas homilias: breves e profundas

 Por Celso Júlio da Silva LC

É uma grande arte dizer muito com poucas palavras, qualidade de pessoas que não se complicam com tantas ideias, mas que tocam a profundidade, fugindo da superfície. Por isso, desejo destacar dois aspectos da homilia: brevidade e profundidade, que estão demarcadas na “Evangelii gaudium” como um ponto urgente da Nova Evangelização.

A brevidade é uma arte de poucos. Sejamos realistas: homilia longa cansa e acaba se perdendo no ar. Homilias para crianças que passam de dez minutos é cansativa. Homilias para jovens e adultos não podem passar de dez minutos, máximo quinze minutos e ainda é muito. Porém, isto não é “Verbum Dei”, não existe uma tabela fixa que estabelece a duração das homilias, mas se trata de um “sentido comum”, que é o menos comum dos sentidos.

Hoje em dia a concentração das pessoas costuma ser reduzida. A nossa cultura é a das imagens rápidas, do mais rápido possível, do “fast-food”, e por isso o sacerdote não se arrisque com uma homilia de meia hora porque as pessoas com certeza se desconectarão. “A homilia é um gênero peculiar, desde o momento que se trata de uma pregação dentro do marco de uma celebração litúrgica; consequentemente deve ser breve e evitar parecer uma conferência ou uma aula. O pregador pode ser capaz de manter vivo o interesse das pessoas durante meia hora, mas assim a sua palavra se torna mais importante que a celebração da fé. Se a homilia se prolonga demais, dana duas características da celebração litúrgica: a harmonia entre as suas partes e o seu ritmo”. (Evangelii Gaudium, cap:3; sobre a homilia).

Sinônimo de homilias longas é “indigestão espiritual”. Muitas ideias bonitas e nutridas de devoção, mas que não oferecem aos fiéis, o que o mesmo Jesus ensinou: “dai-nos hoje o pão de cada dia”. Tem sacerdotes que não dão só o pão de cada dia, mas dão um banquete que provoca “indigestão espiritual”, muitas ideias e nenhuma ideia para saborear e rezar. Dai-nos hoje um único pão! O pão da liturgia do dia, essa capacidade e esforço de transmitir uma só ideia, bem articulada e, sobretudo, rezada com anterioridade.

E por isso se nota que, quando a homilia é breve, é porque detrás teve caneta e papel, ademais da boa vontade do sacerdote de sentar-se, orar com a Palavra em mãos e estruturá-la com amor. Significa não ter preguiça de preparar as homilias! “A preparação da homilia é um dever tão importante que convém dedicar tempo prolongado de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral”; este é um grande desafio para todos os sacerdotes porque “um pregador que não se prepara não é espiritual, é desonesto e irresponsável com os dons que recebeu” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia).

Passemos à profundidade. Do latim “altus-a-um” que significa tanto alto como profundo. Na pregação “altum” é- e aqui uso uma linda imagem- como subir uma montanha. Quando o montanheiro quer chegar ao topo da montanha, tem que levar o essencial dentro da mochila, para subir leve e com facilidade. Uma homilia é subir uma montanha. O pregador para tocar o cume dos corações dos ouvintes deve transmitir o coração da Palavra de Deus e não um “camelô” de ideias periféricas bonitas, que acaba pesando a sua mochila. Assim não chegará nunca ao topo dos corações das pessoas. A sua missão é provocar um contato de amor entre dois corações, um na terra, outro no céu, o do homem e o de Deus, oferecendo-se como porta-voz dos textos proclamados na liturgia do dia.

“Profundidade” consiste em oferecer aos corações dos fiéis o coração da Palavra de Deus. Esta ideia de altura e profundidade simultânea nasce do pensamento do papa Francisco: “o objetivo não é entender todos os pequenos detalhes de um texto, mas descobrir qual é a mensagem principal que confere estrutura e unidade ao texto. Se o pregador não cumprir este esforço, é possível que nem a sua pregação tenha unidade e ordem... A mensagem central é a que o autor quis transmitir em primeiro lugar, o que implica não só reconhecer uma ideia, mas também o efeito que aquele autor quis produzir” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia).

A homilia naturalmente exige profundidade. O que implica que o pregador deve orar e pregar com as coisas do povo de Deus, com as lágrimas e as alegrias, com as vitórias e as derrotas, com os erros e os acertos da sua comunidade, tocando a carne sofrida de Cristo na carne concreta das pessoas que escutam a homilia, tocando os seus problemas, as necessidades e os sonhos, o que evita aquelas homilias de voos intermináveis, que nunca aterrissam nas coisas concretas da vida cristã. “A pregação puramente moralista ou sem doutrina, e mais ainda a que se transforma numa aula de exegese, reduz esta comunicação entre os corações que se dá na homilia e que deve ter um caráter quase sacramental... Não se trata de verdades abstratas ou de frios silogismos, porque se comunica também a beleza das imagens que o Senhor usava para estimular a prática do bem” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia).

A profundidade vai da mão da brevidade porque “onde está a sua síntese, ali está o seu coração” (Evangelii gaudium, cap:3; sobre a homilia). Síntese que é ser breve e coração que é a profundidade que, ao mesmo tempo, provoca o encontro entre dois corações, o de Deus e o do seu povo. Brevidade e profundidade gerarão, não cabe dúvida, saborosas homilias.                


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Alguém morreu por mim

Por Flávio Lopes de Oliveira LC

Seria eternamente grato se soubesse que alguém morreu no meu lugar. São Maximiliano Kolbe, por exemplo, ofereceu a sua vida no lugar de um companheiro de prisão num campo de concentração. Suponho que este prisioneiro se sentiu endividado e ao mesmo tempo agradecido com o ato heroico do santo.

A questão não é supor: “se alguém morresse no meu lugar”; mas é um fato: “Alguém morreu no meu lugar”. Parece um mito inventado ou até mesmo uma história que contavam quando éramos crianças, ou simplesmente nos acostumamos a escutar isso e já nem sabemos exatamente o que significa.



Sim, Cristo morreu no meu lugar, morreu no seu lugar, pagou o preço dos meus pecados para abrir-nos as portas do céu.

O prisioneiro salvo pelo sacrifício de São Maximiliano Kolbe não é um caso único na história, mas todos nós fomos salvos pelo sangue e pelo amor de Cristo.

Nesta Sexta-feira Santa é um dia para chorar a morte de Cristo. Mas não só isso; é um dia para agradecer pela Sua grande misericórdia.


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Orações, não fofocas!

Por Celso Júlio da Silva LC

Na audiência geral do dia 25 de março deste ano o papa Francisco abordou o tema do Sínodo sobre a família. Recordou que o trabalho sinodal deve ser realizado da parte de todos à luz do modelo da Sagrada Família, dentro da qual o Filho de Deus se fez carne. Ademais, belíssima é a oração proposta pelo Santo Padre, com a que todo cristão está chamado a colaborar essencialmente no processo do trabalho sinodal.

Num determinado ponto da sua alocução algo valioso apareceu: peço orações, não fofocas! Francisco é inimigo constante das fofocas. Todos nós sabemos quantas marés de fofocas se levantaram na primeira seção do Sínodo, que, no final das contas, foram tergiversações de determinados temas sobre todo da parte de quem viveu o Sínodo só de expectador, sem conhecer a fundo o que se falou na sala sinodal. Algo similar como aconteceu no Concilio Vaticano II que- como bem exprimiu Bento XVI no seu livro: “Luz do mundo”-: todos opinam e interpretam mal ou pela metade o Concílio talvez porque poucos leem os documentos que emanaram do mesmo.

Diante do perigo da tergiversação o Papa Francisco pediu oração, não fofocas. Chama-nos à oração pela família do nosso tempo. Oração como arma eficaz para lutar pela beleza e pela integridade sagrada de toda família no meio das ondas destrutoras que frequentemente a açoitam.

A fofoca sempre costuma dar-se quando quem por medo ou ignorância vê e julga superficialmente desde fora ou de longe, terminando por opinar ou criticar sem fundamento ou de costas por medo à verdade. A fofoca nunca nasce desde dentro, desde uma compreensão veraz e íntegra dos acontecimentos, e por isso a tendência humana é justamente a tergiversação, como nos adverte de soslaio o Papa.

Com certeza a oração nos fará muito bem. A oração é algo constitutivamente cristão, a fofoca não. A oração sempre une, embeleza e enriquece a família desde dentro das nossas próprias relações familiares e com certeza fortalecerá e iluminará tanto o trabalho do Sínodo como as mentes e os corações dos que em primeira fila estão chamados a encontrar novas guias e projetos para proteger e fomentar com criatividade cada família sob a luz da Sagrada Família de Nazaré.


Enfim, a fofoca é tristemente destrutora. A oração é, sem dúvida alguma, criativa.    

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Reflexões para o Natal- segunda parte

Por João Paulo Jager LC

1.Eis como nasceu Jesus: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo (Mateus 1, 18).

         Maria, uma simples e humilde mulher de Nazaré, se acha grávida. Ela era somente prometida de José, ainda não eram casados. Para a época na que viviam estar grávida antes do casamento era verdadeiramente um escândalo, a lei judaica punia esta culpa com a morte por apedrejamento.

         O evangelho diz que Maria ficou grávida pela ação do Espírito Santo. Isso significa que não houve ação humana alguma. Conhecemos a história, e sabemos como o Anjo Gabriel foi enviado para anunciar à Maria que Ela seria a mãe de Deus.

         O Messias já era esperado pelo povo. Muitas mulheres desejavam que das suas entranhas nascesse o Messias, o Prometido de Deus para salvar Israel. Mas Deus, nos seus desígnios de amor, escolheu Maria para esta grande missão.

         Estudiosos da bíblia contam que Maria e José se comprometeram em casamento porque ambos queriam servir ao Senhor santa e castamente. Isso significa  que casariam, mas em si não teriam mais que um amor de irmãos.

         Maria e José tinham estes planos, mas estes não eram os planos de Deus, Deus pensou antes em Maria, e por isso a preparou para ser sua mãe. Foi concebida imaculada, era verdadeiramente uma mulher muito normal, mas cheia de Deus, como o Anjo na anunciação dirá: “Ave, Maria, cheia de graça”.

Maria aceita ser a mãe de Deus. Mas antes quer ter a certeza de que nada a separará dos seus primeiros propósitos de ser toda do Senhor, consagrada a Ele somente e por isso na anunciação pergunta como será isso, já que não conhecia homem algum. Ao saber que a obra que dela seria gerada era do Espírito Santo, não pensou duas vezes em responder ao Anjo o seu “Fiat”, ou seja: faça-se.

         Assim pôde Jesus nascer. Nascer de Maria, a comprometida com José. Tudo por obra do Espírito Santo. Maria aceita, apesar de tudo o que poderia passar com Ela. Ela sabe confiar, sabe que para Deus nada é impossível, como disse o Anjo.

2.Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio porque não havia lugar para eles na hospedaria. (Lucas 2, 6-7).

        
Completaram-se os dias de Maria, e Ela dá à luz a um Filho. Já sabemos quem é este filho que nasce, e como nasce. Talvez esta frase do Evangelho resuma tudo: não havia lugar para eles na hospedaria. Deus se faz homem, e nasce numa gruta. Deus vem ao mundo, e tendo tudo, chega sem ter nada…

         Mas assim queria Deus para que com a sua pobreza nos víssemos enriquecidos, Ele vem mostrar como tanto do que temos e do que pensamos que é importante nada valem aos seus olhos, que a riqueza para os olhos do mundo, é lixo e miséria aos olhos de Deus.

         Onde nasceu Jesus, o Filho do Altíssimo, o mesmo Deus senão numa gruta fria? O que esquentava este Menino recém-nascido, senão as palhas de um cocho que estava nesta humilde gruta e os animais que ali descansavam? O que serviu de vestes para o Deus que entra no mundo senão umas faixas colocadas por Maria?

         E que diferença a nossa comparando-nos com o nascimento do Menino em Belém. Assim vem Deus, e  nós tantas vezes não nos damos conta de que por nosso amor assim Ele vem, para mostrar que de nada vale as riquezas do mundo.

         Contemplar assim o Menino Jesus não nos deve deixar indiferentes, devemos querer que Jesus venha a nós num bom lugar. Hoje Ele quer nascer também em um bom lugar, mas este lugar é o nosso coração. Ele não quer nascer mais que ali, por isso devemos preparar no silencio do nosso coração um lugar que seja aconchegante para Jesus, onde Ele possa encontrar alegria e consolo que na sua primeira vinda não encontrou.

Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. (Mateus 1, 21).

        
Esta frase o Anjo fala a José. Uma frase realmente que chama a atenção. José decide depois de saber que Maria estava grávida deixá-la em segredo, para que nenhum mal acontecesse com Ela. Denunciá-la, seria matá-la, já que assim estava escrito na lei.

         José era um homem justo, e não queria denunciar a sua prometida, apesar do que aconteceu. Coloquemo-nos no lugar de José. Maria chega com ele e diz que um Anjo a apareceu, que disse que seria Mãe, que seu filho seria grande, que reinaria, que seu reinado não teria fim. José não acreditou em Maria, duvidou dela, pois pensou que Maria quebrara o trato de castidade que tinham feitos e por isso esta decisão, de deixá-la, ainda que fosse em segredo.

         Mas Deus atuou também em José, para cumprir até o fim a sua obra. Num sonho,  José recebe a visita de um Anjo, que anuncia a ele também as obras grandes que Deus estava fazendo por mãos de Maria na humanidade, as profecias na Filha de Sião se estavam cumprindo, Deus que visitava o seu povo.

         Ela dará à luz um filho. Este Filho é Jesus que vem para libertar o homem do pecado. Deus para cumprir as suas obras não escolhe os grandes do mundo, mas sim as pessoas humildes e simples, Maria era de Nazareth, uma cidade perdida, nada importante no grande império romano. O Evangelho nos diz também que José era um simples carpinteiro, mas estes dois personagens foram os que Deus escolhera para completar a sua obra.


         De um simples carpinteiro, de uma simples mulher, mas sem esquecer que Deus a tinha preparado já para esta grande missão, nasce o Messias, Aquele que vem libertar o povo dos seus pecados. Jesus, do hebreu, Salvador. Sim, salvador, porque veio para isso, para salvar o homem, para libertar o homem, para livrar o homem do pecado. 

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Adoremos o Mistério

Por Celso Júlio da Silva LC

Natal é uma festa cristã. As nossas ruas e as nossas casas estão esplendidamente enfeitadas e iluminadas. Compramos muitos presentes para dar e ansiamos também recebê-los. As crianças não veem a hora de o Papai Noel distribuir os presentes. Já está programada a ceia da noite do dia 24 e a expectativa é descansar e desfrutar em família estes últimos dias do ano. Esta é a mentalidade do mundo de hoje. Porém, Natal é só isto? Tanta festa e tantos presentes, mas quem é o festejado?

Natal é a festa de Jesus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Eu já poderia deixar por aqui a caneta e parar de escrever, pois o que podemos acrescentar ao fato misterioso de que o Verbo de Deus assume a nossa carne humana na simplicidade e na inocência de um bebê? A Palavra não precisa ser dita, a Palavra hoje chora e ri no colo de Maria.

A festa é de Jesus. Não é do Papai Noel, não é do consumismo, não é do descanso, das férias de fim de ano, da ceia do 24, não é dos intercâmbios de bons desejos... Quando não festejamos Jesus, o Natal se torna uma festa pagã e quem não festeja Jesus, pode estar seguro de que caminha nas trevas, por mais luzes coloridas que quiser acender neste período do ano. A Luz veio ao mundo e os seus não a acolheram.

Neste Natal quem não se ajoelhar e adorar o Mistério na doçura e fragilidade do Menino envolvido em faixas e deitado numa manjedoura, acabará adorando outros deuses, comportar-se-á como Herodes que decidiu ficar confortável no seu palácio, um egoísta que disse não ter espaço para dois reis, coração gordo, pesado e feio no qual não coube a simplicidade do Mistério de Deus feito carne. O Menino Jesus na noite fria de Belém, na pobreza e na humildade de uma criança, não tira nada de nós, o Mistério só pede ser acolhido e adorado.

Até Belém- que significa “casa do pão”- se dirigem os que têm fome de Redenção. Uns guiados por uma estrela, outros por um coro celeste. Os primeiros, sábios, oferecem ao Menino ouro porque é Rei e triunfará para sempre- “e o seu Reinado não terá fim”-, incenso porque é Deus- “chamar-se-á Filho do Altíssimo” e mirra porque é homem e passará pela dor e pelo sacrifício amargo da cruz- “este Menino será um sinal de contradição”. Os últimos são simples pastores que oferecem a Deus os seus joelhos e o seu coração humilde. Ambos representam toda a humanidade, ricos e pobres, sábios e ignorantes, sãos e enfermos, crianças e idosos. Todos vão à Belém para adorar o “Pão-Jesus” saído das entranhas de Maria, que depois será cozinhado durante trinta anos em Nazaré, e se entregará como alimento de salvação na cruz e permanecerá conosco na Eucaristia.

Lindas são as representações do presépio na arte bizantina. O Menino Jesus aparece deitado num pequeno caixão, sem muitos panos para protegê-lo do frio, e não aparece, como costumamos ver, num presépio cheio de palhas, quentinho e protetor. Os homens nascem para viver, Jesus nasce para morrer e nos salvar, dando-nos a esperança com a sua ressurreição. Por isso, representam o Menino Jesus num caixãozinho. Um mistério que só se compagina em Cristo feito carne da nossa carne, que desce até nós, aceitando passar por Belém e pelo Calvário, pela alegria e pela dor, pelo nascimento e pela morte. Nascido para nós, morto por nós, ressuscitado por nós.

Que neste Natal Deus encontre espaço no nosso coração e possamos adorar o Mistério e cantar com todo o coro do céu: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ama o Senhor!”.


Um Feliz Natal para todos!

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Reflexões para o Natal-primeira parte

Por João Paulo Jager LC

1.No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. (Lucas 1, 26-27).

         No sexto mês da gravidez de Isabel, Deus envia seu Anjo mensageiro, Gabriel para anunciar que Maria era a escolhida por Deus para ser Mãe de seu Filho. Podemos imaginar como foi esta cena, muitos são os artistas que tentaram representar este momento tão particular da história.

         Talvez Maria se encontrasse neste momento em oração,  como tantos gostam de imaginar, ou fazendo algum trabalho, a comida, limpando a casa, costurando. Gosto também de imaginar Maria em oração, ali, talvez de joelhos, uma posição não comum no judaísmo, recitando os salmos de David, falando com Deus de maneira simples, como é característico D’Ela.

         Maria, neste seu momento de oração recebe a visita de um Anjo. A pequena serva de Nazareth, que servia a Deus na humildade da sua vida  ordinária recebe hoje uma graça extraordinária. Não qualquer pessoa recebe a visita tão grande como recebeu Maria.

         O Evangelho anuncia que Maria estava comprometida com José que era da descendência de David e neste primeiro momento diz que o nome da Virgem era Maria, já que começa dizendo que o Anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia a uma virgem.

         Sobre estas sete palavras sobre as que quero fazer alguma reflexão, pois tantas vezes invocamos Maria, rezamos tantas aves Maria e talvez não nos damos conta de que o nome da Virgem era Maria. Este fato sabemos pelo evangelho que nos diz. Um nome nunca é indiferente, um nome nunca é algo superficial. Sobretudo para o antigo Israel o nome significava uma missão.

         Quando dizemos que o nome da Virgem era Maria estamos dizendo que a escolhida por Deus para ser a mãe de seu filho se chamava Maria. Maria, nome tão doce na boca dos santos, nome que pronuncia Deus e os Anjos, nome que causa horror e medo aos demônios no inferno, que dá confiança e esperança aos homens que seguem na terra. E o nome da Virgem era Maria. 

2. Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.

        
Ave, Cheia de Graça, o Senhor é contigo. Na anterior reflexão meditamos na grandeza de alma de Maria e no seu nome, na visita do Anjo á uma Virgem de Nazareth. Esta segunda meditação é sobre a saudação do Anjo a esta humilde Virgem de nome Maria.

         Ave, Cheia de Graça. Sim, Ave e cheia de graça, porque Deus, que é a pura santidade não escolheria para ser sua mãe mais que uma alma toda santa, e por isso assim criou Maria, toda santa, toda pura, toda bela. Não há na Virgem mancha original, é sem mácula alguma.

         Ave, cheia de graça. Sim, cheia de graça porque assim pensou Deus para Maria e assim Maria pensava em agradar a Deus, sendo sempre a cheia de graça, sempre a humilde serva do Senhor, mas toda pura, toda bela, toda imaculada.

         O Senhor está contigo. Se Maria era a cheia de graça, Deus não podia mais que estar com Ela, que acompanhá-la, que estar verdadeiramente com Aquela que era a imaculada, a cheia de graça.

         O Senhor está contigo, porque Maria também estava sempre com o Senhor, a sua vida era uma contínua oferta para o Senhor, não fazia mais que isso, que oferecer-se, que dizer que amava ao Senhor, que rezar, que calar, que encontrar-se com Ele no seu íntimo, na sua alma, no seu coração.

         Ninguém mais puro, ninguém mais cheio de graça, ninguém mais humilde que Maria, que a escrava do Senhor, que a cheia de graça. Assim foi Maria, assim viveu Maria, assim atuou Maria, sempre na graça, sempre com Deus, sempre na sua união.

         Ela sabia bem que nada podia sem a graça de Deus, e por isso vivia a sua vida interior, a sua graça tão delicadamente. Maria é a cheia de graça, porque ninguém mais que Ela soube guardar a vida verdadeira, aquela que está em viver só com Deus, só para Deus, em fazer todas as coisas somente por Ele.

3. Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. (Lucas 1, 38)

         Imaginemos a cena. Deus envia seu Anjo para anunciar à uma virgem que Ela tinha sido a escolhida para ser a mãe de Deus, que deveria vir ao mundo para salvar o povo dos seus pecados.

        
Deus se humilha, espera do homem uma resposta. Maria é livre, pode dizer sim ou não ao querer de Deus, pode responder com generosidade ao seu convite ou simplesmente ignorar a sua voz. Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo, disse o Anjo como vimos na meditação anterior.

         Também o Anjo está nervoso, e pensa em como será esta visita, se Maria aceitará, se negará cumprir o querer de Deus… Olhemos agora o que passa no céu. Todos ali olham a terra, e contemplam a anunciação à Maria.

         Escutam atentamente cada palavra do Anjo, estão com os olhos fixos em cada gesto de Maria, tudo porque sabem como este episódio mudará a história da criação de Deus, que está agora deformada pelo pecado de Adão e de Eva.

         A Trindade escuta atentamente, olham a cena como se fosse a novela mais interessante da TV. Os Anjos todos escutam atentamente… Sabem que a resposta de Maria não é indiferente, mas que vale muito, que importa muito. E por isso aguardam assim.
        
Que alívio para todos os assistentes desta cena tão angustiante quando Maria, na sua humildade responde estas doces palavras, que hoje a Igreja toda reza no Ângelus todos os dias: “Eu sou a escrava do Senhor, faça-se em mim, segundo a tua palavra”.

         Todo o céu dependia deste sim de Maria. Não que Deus na sua infinita providência não pudesse remediar a situação com outro plano e desígnio de amor, mas Ele tinha escolhido e pensado em Maria, e desde toda a eternidade aguardava esta resposta da sua humilde serva. 



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Imaculada: da boca ao ventre, do ventre à Árvore

Por Celso Júlio da Silva LC

Oito de dezembro de 1854. A cristandade inteira dirige o coração à Basílica Vaticana. O céu parece visitar a terra no repicar sonoro dos sinos romanos. Pio IX desde a cátedra levanta a voz proclamando para toda a Igreja Universal o dogma da Imaculada Conceição.

Todos nós sabemos que a primeira “imaculada” da história, criada sem pecado original, foi Eva. A sua pureza permitia desfrutar da presença de Deus todos os dias. Que prazer não era conversar com Deus nos entardeceres do jardim do Éden!

Contudo, aquela pureza de repente virou folha arrastada pelo vento da soberba e da desobediência. O demônio, na figura da serpente, anestesiou o coração de Eva com discursos aparentemente convincentes de conhecimento e de poder- “sereis como deuses”- apresentando-lhe um caminho bem fácil, a guia do caminho tentador era: da árvore à boca, da boca ao ventre e o fruto, uma vez no ventre de Eva, desatou o triste destino da humanidade: pecado e morte.

Maria foi concebida sem pecado original, pois depois daquela nefasta tarde no jardim do Éden Deus jamais se esqueceu do homem, obra das suas mãos, e para salvá-lo, desde aquele momento, pensou também em Maria, a mulher pura que esmagaria a cabeça da serpente, dando à luz o Salvador Jesus Cristo.

Maria é a verdadeira e a única Imaculada! É a Nova Eva que floresceu como flor de primavera do poder redentor de Deus. Na Anunciação o anjo Gabriel poderia ter feito perfeitamente um jogo de palavras: “Ave-Eva!”, pois a Cheia de graça aceitou cumprir o caminho contrário da primeira Eva, um caminho mais árduo que era: da boca ao ventre, do ventre à Árvore. Assim contemplamos uma tênue luz do mistério da Imaculada, de tal forma que a nossa oração recobra um sentido mais profundo cada vez que rezamos: “bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus!”. Jesus é o fruto do ventre de Maria Imaculada concebido pelo poder do Espírito Santo.

Da boca ao ventre: Maria Imaculada não pretendeu obter conhecimento e poder diante da proposta do anjo Gabriel, mas acolheu o Fruto na pureza e na humildade de uma serva, exclamando: “Eis aqui a escrava do Senhor...”- “faça-se”; da boca ao ventre, não com pretensões egoístas como Eva no Paraiso, submersa na tentação do demônio, porém na pequenez de uma serva que acolhe o Fruto da Salvação no seu ventre puro.

E do ventre à Árvore. Maria é corredentora no plano da salvação. Por isso, deu à luz a Jesus, fruto bendito do seu ventre, para devolver na obediência e na aceitação amorosa do mistério redentor o Fruto à Árvore, só que não àquela árvore do Paraíso, atrativa, tentadora, sedutora e proibida, mas àquela Árvore do Calvário, a Cruz, que para nós às vezes não é tão atrativa, nem sedutora e- claro- jamais proibida, mas sempre fugimos dela. Maria é Imaculada porque está ao pé da cruz adorando a Árvore da Vida, onde a Vida, fruto do seu ventre imaculado está pregada por amor aos homens.

Hoje com toda a Igreja elevamos a nossa gratidão de filhos à Maria Imaculada por ter trilhado o difícil caminho do Mistério na fé e na pureza, o caminho da humildade de acolher Deus no seu ventre puro, cooperando com a nossa redenção, para adorá-lo na Árvore da Vida, que é a cruz de Jesus Cristo. Que Maria Imaculada proteja a flor da pureza no nossa vida cristã, e especialmente na vida dos jovens de hoje.


Pela vossa Imaculada Conceição, ó Maria, purificai o nosso corpo e santificai a nossa a alma!      

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Olhos para o céu, joelhos para Deus e mãos para o próximo

Por Celso Júlio da Silva LC

Advento é estar à espera de Deus que chegará no meio de nós. Espera que não significa cruzar os braços numa expressão de cansaço e de desesperança-quem sabe se chegará!- até chegar ao ponto de viver uma sonolência do coração. Isto não é a nossa esperança crista neste Advento! Advento é uma espera gozosa na certeza de que Jesus Cristo chegará para habitar no aconchego do nosso coração.
           
Por isso, “vigiai porque não sabeis quando é o momento!” (Mc 13,33). É hora de vigiar, não de braços cruzados, indiferentes, mornos, secos, sem esperança no olhar, submersos na canseira diária e nos nossos egoísmos diante das ocasiões para amar e servir os que convivem conosco dentro da nossa casa e na nossa comunidade.

Vigiar assim- de braços cruzados- produz uma profunda sonolência do nosso coração e faz andarmos na vida com olhar rasteiro, sempre para baixo, preocupados com muitas coisas materiais, ocupados só em ter, consumir, investir, viver comodamente e nos divertir, e, com uma vida neste estilo, dos lábios de um coração sonolento não se pode escutar outra oração que a seguinte: “ Pai Nosso, que estais nos céus...Sim, que estais bem longe de nós! Vós ai no céu e nós aqui na terra!”. Até aqui chega o absurdo de uma vigilância de braços cruzados e de um coração sonolento para esperar a chegada de Deus.

Vigiar consiste em olhar para o céu. Porém, pensemos quantas coisas hoje em dia nos impedem levantar o olhar para o céu! E quem não olha para o céu, acaba olhando instintivamente somente para o próprio umbigo egoísta, no seu coração já não tem espaço nem para Deus nem para os outros. Quem não contempla o céu, não é capaz de dobrar os joelhos para adorar e rezar. O homem moderno foi capaz de chegar até na lua, mas quanto lhe custa levantar o olhar para reconhecer que existe um Deus que olha para ele e o ama!

Ao longo da história da salvação Deus sempre contemplou a terra e os seus habitantes e o seu contemplar sempre foi sinônimo de amor por nós. Mas o homem, não contemplando o céu, onde está Deus, fez com que Deus descesse libre e amorosamente à terra no ventre de Maria de Nazaré, para que de uma vez para sempre o Amor ensinasse ao homem a olhar o céu desde a terra, só que desta vez não olhando o céu só para cima, mas olhando para baixo, isto é, contemplando o Amor feito carne, Jesus Cristo, envolvido em faixas e deitado numa manjedoura.

Olhar para o céu e adorar o Amor que descerá à terra ao encontro do homem é a melhor notícia que temos que antecipar ao mundo com as nossas mãos, mãos que são as nossas obras em favor do nosso próximo enraizadas na contemplação e na adoração que entranha a espera cristã neste Advento. Os homens, vendo-nos, quererão também eles esperar na esperança e no gozo o Salvador que não só contempla o mundo desde o céu, mas quis descer à nossa vida e às suas consequências mais dolorosas. Nós nascemos para viver, Jesus nasceu para morrer, para nos salvar e se aproximar do nosso coração que agora está à espera. Esta é a grandeza da esperança cristã! Não a escondamos, não a neguemos, não a esqueçamos!


Peçamos a Deus a graça de, neste Advento, vigiar com um coração cheio de esperança, não sonolento e rotineiro; de olhar para o céu para amar a quem nos olha e olhar quem nos ama; de dobrar os joelhos em adoração para orar sem nos cansar para que Ele venha ao nosso coração e arregaçar as nossas mangas, isto é, que as nossas boas obras gritem ao mundo inteiro que a Salvação esta por chegar. Vendo-nos, os homens poderão acolher melhor o Céu na terra, poderão se maravilhar quando a Eternidade tocar o tempo na ternura de uma criança e no instante em que a Luz dissipar para sempre as nossas trevas.             

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Saiba viver santamente

Por Leonardo Ramírez, L.C.

Primeira parte: Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar.

“Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda aparência do mal” (1 Tessalonicenses  5, 16-22).

Numa das últimas catequeses o Papa Francisco falou da vocação universal dos homens à santidade, explicando o modo e o caminho que Deus nos oferece para avançar na vida e nos aproximarmos cada dia mais da morada que Ele nos tem preparada, segundo a promessa de Cristo (Papa Francisco, Audiência General, Praça de são Pedro, 19 de novembro de 2014).

São Paulo nos apresenta na carta aos Tessalonicenses alguns conselhos para orientar e fortalecer nossa vontade na peregrinação para o céu. Estes conselhos, embora fossem escritos para uma comunidade cristã dos primeiros tempos, no desígnio de Deus e pela sua inspiração, são palavras para todos os homens da história, são palavras para mim e para você, pois todos, independentemente da vocação e da missão que temos, somos chamados a sermos santos.

O primeiro dos conselhos é um convite a viver sempre alegres, pois Cristo viveu feliz e depois de sofrer a paixão e morrer, com a sua ressurreição nos deu novamente a alegria. O gozo de saber que Ele venceu e que nós estamos chamados à sua mesma alegria, à sua ressurreição, esse é o centro da vida e da pregação da Igreja.

Por isso, a insistência do Papa na importância de não nos esquecer de que o evangelho é mensagem de alegria, de esperança, é Deus que vem ao nosso encontro e nos convida a viver com Ele, a lutar para chegar à vida eterna. Deus não quer que sejamos tristes, Ele é o primeiro interessado na nossa felicidade.

O Papa Francisco nos convida a viver a alegria do Evangelho, alegria que nasce do encontro com uma pessoa que enche a vida de força e nos impulsiona a comunicá-la aos outros.

E aqui passamos ao segundo conselho do Apóstolo: “Orar sem cessar” é o convite a viver perto do Senhor, pois sem Ele nada podemos fazer. Só com a presença do Senhor e do seu Espírito, com a força que nasce d’Ele, podemos chegar à santidade.

O Papa nos convida não só a transmitir a alegria do Evangelho, mas também a sermos evangelizadores com espirito, isto é, cristãos que sabem descobrir a sua presença nas suas vidas e que não podem deixar de anunciar esta alegria ao seu redor. (Cfr. Evangelii Gaudium 254-262).

Eis a importância de ser cristãos com espírito, que vivem felizes e perto do Senhor, causa da sua alegria e o impulso que motiva à missão.

Como ensina o catecismo da Igreja Católica, Deus nos criou para viver eternamente com Ele, por isso quer que sejamos felizes, Ele sabe que não podemos ser felizes sem Ele, por isso é importante rezar sem cessar, pois só poderemos ser cristãos felizes perto de Deus (Cfr. 27).



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O trono de Jesus Cristo é o coração do homem

Por Celso Júlio da Silva LC

A solenidade de Cristo Rei do Universo foi instituída pelo Papa Pio XI em 1925 que, num mundo que acabava de passar pelos horrores da Grande Guerra e começava a levantar algumas bandeiras ideológicas, escreveu a sua primeira encíclica, “Quas primas”, na que proclama Jesus Cristo como Rei do universo. Com esta solenidade também pomos ponto final no ano litúrgico, lembrando-nos de que só Jesus Cristo é Rei de toda a criação e, sobretudo, dos nossos corações.

Hoje soam com vibrante eloquência, em toda a terra, aquelas palavras brônzeas no obelisco de Heliópolis, fincado no meio da Praça de são Pedro: “Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat” (Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera). E, nesse contexto, Cristo, que na sua vida terrena nunca mencionou ser Rei, hoje deseja sentar num trono: no nosso coração.

1.Cristo vence, reina e impera!

Cristo vence hoje! Cristo reina hoje! Cristo impera hoje! Não podemos dizer isso de tantos reis, imperadores e líderes políticos ao longo da história, nem de Júlio Cesar, nem de César Augusto, de Nero, de Carlo Magno, de Frederico II, de Carlos V, de Felipe II, de Hitler, de Mussolini, de Stalin, de Franco e de tantos outros dirigentes de nações. Eles já não existem mais. Hoje todas as suas glórias estão guardadas no baú do tempo que se chama gramaticalmente- “passado”- e não voltam mais.

Que pequeno é, por exemplo, aquele “veni, vidi, vinci” de Júlio Cesar depois de cruzar o Rubicão, está tudo em passado, foi e agora não é mais! Quanta vaidade foi para Luís XIV, monarca francês, pronunciar aquele “o estado sou eu!”-hoje a frase muda um pouco- “o estado foi ele”. Para eles e tantos outros bem vale aquela frase famosa que se encontra nas tumbas honoríficas barrocas- “sic transit gloria mundi” (assim passa a glória do mundo!).

Jesus não é como os poderosos desta terra. O seu poder é vigente hoje! Aquele sepulcro vazio não nos engana, mas nos fala de um Deus que, querendo atravessar conosco as vicissitudes da história, continua presente no hoje da sua Igreja, seu Corpo Místico, manifesta a sua presença nos seus santos no decorrer dos séculos, nos acompanha no sacramento da Eucaristia e nos dá a certeza de que está conosco todos os dias até o fim dos tempos. “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos morreram...e é preciso que Ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser derrotado será a morte, porque Deus sujeitou tudo debaixo dos seus pés” (1 Cor 15, 25-26).

Jesus é um Rei que jamais conhecerá a força dum passado sem retorno, porque Deus na pessoa de Jesus Cristo quis abraçar de uma vez para sempre na profundidade cósmica e misteriosa da sua paixão, morte e ressurreição tempo e eternidade, passado, presente e futuro, e assim não nos deixou sozinhos, entregues ao pecado e à morte, mas nos fez partícipes do seu Reino. Nós, cristãos, com os pés bem colocados nesta terra, olhamos para a glória do Céu, onde está Aquele que foi na nossa frente, abrindo-nos o caminho que dá ao seu Palácio, onde “Ele será tudo em todos” (1 Cor 15,28).    

2.Então, Tu és Rei? Sim. O Rei do serviço e da humildade.               

Jesus é Bom Pastor, Vida, Pão, Luz, Caminho, Verdade, mas nunca disse ser Rei. Falou do seu Reino, mas nunca disse: “Eu sou Rei”. Depois de multiplicar os pães, todo mundo com o estômago agradecido quis declará-lo rei e Ele se retirou, fugindo da glória deste mundo. Duro foi aquele apelido dado a Herodes- “aquela raposa”. Quando teve que opinar sobre questões que implicavam o imperador no meio, não pensou duas vezes- “ao César o que é de César”. Jesus fugia de ser rei?

Pilatos, procurador romano, também fez algumas perguntas interessantes a Jesus. A primeira foi “quid est veritas?” (o que é a verdade?); e ele não sabia que a resposta estava misteriosamente escondida detrás da sua pergunta, pois, se usamos todas as letras da pergunta formulada em latim mudando as posições e formando outras palavras, temos a seguinte resposta “est vir qui adest!” (é o homem que está aqui presente!): a Verdade estava diante dele e não sabia! A outra foi “Tu és rei?” e Jesus começa respondendo: “o meu Reino não é deste mundo...”; mas de ser rei...nem conversa! Jesus não falou nada. Quantos Pilatos andam nas nossas ruas, estão dentro da nossa família, do nosso trabalho! São Pilatos que não reconhecem a Verdade e a Realeza de Jesus Cristo nas suas vidas.

Mas, no fundo desta atitude de Jesus, aprendemos que o verdadeiro poder, aquela pessoa que realmente tem autoridade, na verdade está chamada a uma vocação de serviço e de humildade. A mesma palavra “autoridade” significa etimologicamente “aumentar, crescer”, mas não a nossa fama, o nosso egoísmo, o nosso prestigio social, mas os que nos rodeiam, que os nossos irmãos cresçam ajudados por nós, pelo nosso testemunho que arrasta e pelo nosso apoio fraterno que os sustenta. Quem maior poder tiver, maior responsabilidade de servir e ajudar o próximo no amor e com amor terá.

Não temos dúvida de que Cristo é o nosso Rei e nesta solenidade Ele nos chama a tomar consciência disso: ter autoridade significa estar para servir, não para nos envaidecer e que os outros nos sirvam. Jesus é Rei que só aceita uma coroa, a de espinhos. Só aceita um trono, a cruz. Só aceita um manto, um trapo velho e remendado. Veio para servir e não para ser servido.            

3.Um trono: o coração do homem.

Jesus é Rei e é ao mesmo tempo o Reino. Quantas vezes rezamos “Venha a nós o vosso Reino!”, pedimos que Cristo venha e reine dentro de nós, na nossa vida, na nossa família, no nosso trabalho, nos nossos ambientes comunitários e continuamente a nossa vida cristã consiste em encontrar no meio dos problemas diários e das dificuldades que vão aparecendo o Rosto desse Rei e desse Reino que nos espera e que nos dá esperança.

Onde está o seu Reino? Está dentro do coração de quem ama e leva a Boa Nova a todos os povos. Quando damos de comer a quem tem fome, de beber a quem sede, e damos dignidade àquela pessoa que não a tem, dando-lhe uma oportunidade de trabalho, oferecendo-lhe espaço e voz na comunidade; quando acolhemos com alegria o estrangeiro, o necessitado, o pobre, o enfermo, o pecador que caiu, os encarcerados, os marginalizados... quando somos discípulos de Cristo, então o Reino vem, o Rei age neste mundo. Porque tudo isto “a mim o fizestes” (Mt 25, 40). E fazemos tudo isto porque no nosso coração está Cristo, ali Ele encontra o seu trono e dali Ele reina.

Já quando no nosso coração só tem protagonismo pessoal, ambição de poder, fama e sucesso e esquecemos que somos portadores do Reino, especialmente aos mais simples e humildes, então que triste vai ser escutar naquele último dia: “retirai-vos da minha presença, malditos. Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos!” (Mt 25, 41). E quantos por afã de protagonismo e de poder, viveram como se fossem “reis do mundo” e, em vez de viver a autoridade como serviço, sabendo que só eram “filhos do Rei”, quiseram ser servidos e não contemplaram o Rosto do Rei, manso e humilde. Caíram talvez no esquecimento do “passado” porque não quiseram vencer, reinar e imperar com Cristo, por Cristo e em Cristo servidor. Servir a Deus e o próximo é reinar! Deus não achou no coração deles espaço para fazer dele o seu trono e assim reinar.

Oração: Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, Tu que vences, reinas e imperas no hoje da vida da Igreja e na vida de cada homem, ajudai-nos a servir-vos nos irmãos com espírito de serviço e humildade, para que o vosso Reino se estabeleça concretamente em todos os âmbitos da sociedade e que todos os que exercem alguma autoridade nesta terra, possam comtemplar a vossa cruz e trilhar o caminho desinteressado do amor e da entrega, e não caiam na tentação da fama e do prestigio, mas saibam dirigir os povos ajudados pela vossa graça, com o olhar fixo em Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.      

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