Por Celso Júlio da Silva LC

Advento é estar à espera de Deus que chegará no meio de nós. Espera que não significa cruzar os braços numa expressão de cansaço e de desesperança-quem sabe se chegará!- até chegar ao ponto de viver uma sonolência do coração. Isto não é a nossa esperança crista neste Advento! Advento é uma espera gozosa na certeza de que Jesus Cristo chegará para habitar no aconchego do nosso coração.
           
Por isso, “vigiai porque não sabeis quando é o momento!” (Mc 13,33). É hora de vigiar, não de braços cruzados, indiferentes, mornos, secos, sem esperança no olhar, submersos na canseira diária e nos nossos egoísmos diante das ocasiões para amar e servir os que convivem conosco dentro da nossa casa e na nossa comunidade.

Vigiar assim- de braços cruzados- produz uma profunda sonolência do nosso coração e faz andarmos na vida com olhar rasteiro, sempre para baixo, preocupados com muitas coisas materiais, ocupados só em ter, consumir, investir, viver comodamente e nos divertir, e, com uma vida neste estilo, dos lábios de um coração sonolento não se pode escutar outra oração que a seguinte: “ Pai Nosso, que estais nos céus...Sim, que estais bem longe de nós! Vós ai no céu e nós aqui na terra!”. Até aqui chega o absurdo de uma vigilância de braços cruzados e de um coração sonolento para esperar a chegada de Deus.

Vigiar consiste em olhar para o céu. Porém, pensemos quantas coisas hoje em dia nos impedem levantar o olhar para o céu! E quem não olha para o céu, acaba olhando instintivamente somente para o próprio umbigo egoísta, no seu coração já não tem espaço nem para Deus nem para os outros. Quem não contempla o céu, não é capaz de dobrar os joelhos para adorar e rezar. O homem moderno foi capaz de chegar até na lua, mas quanto lhe custa levantar o olhar para reconhecer que existe um Deus que olha para ele e o ama!

Ao longo da história da salvação Deus sempre contemplou a terra e os seus habitantes e o seu contemplar sempre foi sinônimo de amor por nós. Mas o homem, não contemplando o céu, onde está Deus, fez com que Deus descesse libre e amorosamente à terra no ventre de Maria de Nazaré, para que de uma vez para sempre o Amor ensinasse ao homem a olhar o céu desde a terra, só que desta vez não olhando o céu só para cima, mas olhando para baixo, isto é, contemplando o Amor feito carne, Jesus Cristo, envolvido em faixas e deitado numa manjedoura.

Olhar para o céu e adorar o Amor que descerá à terra ao encontro do homem é a melhor notícia que temos que antecipar ao mundo com as nossas mãos, mãos que são as nossas obras em favor do nosso próximo enraizadas na contemplação e na adoração que entranha a espera cristã neste Advento. Os homens, vendo-nos, quererão também eles esperar na esperança e no gozo o Salvador que não só contempla o mundo desde o céu, mas quis descer à nossa vida e às suas consequências mais dolorosas. Nós nascemos para viver, Jesus nasceu para morrer, para nos salvar e se aproximar do nosso coração que agora está à espera. Esta é a grandeza da esperança cristã! Não a escondamos, não a neguemos, não a esqueçamos!


Peçamos a Deus a graça de, neste Advento, vigiar com um coração cheio de esperança, não sonolento e rotineiro; de olhar para o céu para amar a quem nos olha e olhar quem nos ama; de dobrar os joelhos em adoração para orar sem nos cansar para que Ele venha ao nosso coração e arregaçar as nossas mangas, isto é, que as nossas boas obras gritem ao mundo inteiro que a Salvação esta por chegar. Vendo-nos, os homens poderão acolher melhor o Céu na terra, poderão se maravilhar quando a Eternidade tocar o tempo na ternura de uma criança e no instante em que a Luz dissipar para sempre as nossas trevas.             

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